Universo de J.R.R. Tolkien

O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

  Universo de J.R.R. Tolkien: Tudo que Precisas Saber!

     Seja você um grande fã do universo de Tolkien ou alguém que apenas quer saber um pouquinho mais do que se trata, junte-se a mim. Trago aspectos interessantes que todos deveriam conhecer sobre esse universo, e seu autor. E tudo isso sem dar spoilers!

Não há Spoilers neste artigo

*Trago sinopses dos livros, curiosidades, dicas, trechos das cartas de Tolkien e considerações para reflexão. Não considero coisas assim como "spoilers" porque no final das contas é apenas um apanhado geral da obra e de seu autor (ainda haverá muito para ler nos livros, não se preocupe).


Você vai encontrar aqui:

  • 1- Sinopse de O Hobbit e curiosidades sobre o livro

  • 2- Sinopse de O Senhor dos Anéis e curiosidades sobre o livro

  • 3- Uma observação sobre: O Silmarillion, Contos Inacabados, outros livros e As Cartas de J.R.R. Tolkien

  • 4- Sinopse de O Silmarillion e curiosidades sobre o livro

  • 5- Dentro da Ficção.

  • 6- Sinopse de Contos Inacabados e curiosidades sobre o livro

  • 7- As Cartas de Tolkien sobre Eä e seu Mito Cosmogônico 

    • Extra - Tolkien e Religião
  • 8- As Cartas de Tolkien: alguns outros pontos para refletir

  • 9- Tolkien e a Alegoria versus Aplicabilidade

  • 10- Conclusão

 

Instruções de leitura da obra:

    Para iniciantes, recomendo quatro livros do universo de Tolkien: O Hobbit, O Senhor dos Anéis, O Silmarillion e Contos Inacabados. Se você está começando agora, estes são os que você deve ter em mãos, nada de sair comprando vários e vários títulos (ainda). E recomendo ler nesta ordem mesmo que eu disse acima.

    Porque O Hobbit é uma grande porta de entrada para o universo de Tolkien (90% dos que começam por ele decidem aprender mais sobre o Legendarium de Tolkien) e com ele você pode julgar se realmente gosta do estilo de escrita do autor e se deseja continuar ou não.

    Se você (A) achou O Hobbit incrível e quer se aprofundar, vá para O Senhor dos Anéis, mas se você (B) achou que foi descritivo e muito chato, não vá mais longe (respeite seu próprio gosto literário, às vezes o livro é realmente incrível, mas não é o que você gosta de ler).

    Se você (A) terminou O Senhor dos Anéis e adorou, leu todos os apêndices e ainda quer saber mais sobre esse universo, vá para O Silmarillion. Mas se você (B) gostou do livro, mas achou muito descritivo e detalhado e até leu os apêndices, mas achou excessivo e acha que já leu o suficiente do legendarium de Tolkien, não vá para o Silmarillion.

    Se você leu O Silmarillion, e (A) adorou, e quer saber mais sobre esse universo, leia Contos Inacabados. Se (B) você terminou O Silmarillion e acha que já está farto de Tolkien, não procure mais.

    Em Contos Inacabados você notará que este é um livro que mostra diferentes rascunhos, mostra mais de uma versão de um rascunho para uma situação, com notas de Christopher Tolkien (filho de Tolkien) e às vezes ele insere cartas de seu pai entre as notas para dar ênfase em qualquer declaração que fez ou para sustentar oque foi dito em algum rascunho. Se (A) você gostou disso, passe para outros livros póstumos, pois são todos assim. Se (B) você não gostou da estrutura do livro, não prossiga.

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O Hobbit, e Suas Curiosidades


O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

Como a maioria dos hobbits, Bilbo Bolseiro vive uma vida pacífica até ser visitado pelo mago Gandalf, que, acompanhado por um grupo de 13 anões, o convida para uma aventura. A partir daí, toda a pacata vida campestre dele, soprando anéis de fumaça com seu belo cachimbo, começa a mudar quando parte com Gandalf, Thorin Escudo de Carvalho (Rei dos Anões) e sua companhia.

Nesta jornada, os quinze tentam cruzar a Terra-Média, passando por inúmeros perigos pelo caminho, como trolls, montanhas enevoadas cheias de inimigos e a antiga e misteriosa floresta Trevamata, até chegarem (se puderem) a Montanha Solitária (Erebor), um antigo reino anão que guarda um tesouro imensurável. O problema? No topo desta riqueza inestimável está o dragão Smaug. Mas será que o grupo conseguirá chegar lá? Que surpresas esta viagem trará? Como terminará? Como influenciará o futuro da Terra-Média? Você tem que ler e descobrir.

Sinopse de O Hobbit

    Sobre esse livro, enquanto estava sentado em sua mesa corrigindo testes de literatura inglesa, o professor de Oxford J.R.R.Tolkien disse: “Um dos candidatos gentilmente deixou uma página sem nada escrito (a melhor coisa que poderia acontecer a um examinador) e eu escrevi nela: 'em uma toca no chão vivia um hobbit.' Nomes inventados sempre criam uma estória em minha mente. No fim, achei melhor descobrir como eram os hobbits".

    Bem, deixe isso encorajá-lo. Você também não quer saber como são os hobbits?

    A primeira coisa que os leitores precisam entender é que existem diferentes tons narrativos nos livros do autor, O Hobbit é uma leitura mais suave e divertida porque é voltada para todos os públicos (desde crianças até idosos), afinal Tolkien escreveu para seus filhos quando eles ainda eram crianças. Então a trama não se expande em narrativas mais prolixas. Eu recomendo fortemente começar com este. 

    A trama de O Hobbit ocorre antes dos acontecimentos que lerá em O Senhor dos Anéis, ou seja, é uma prequela, e continua fascinando fãs de todas as idades, talvez pelo seu tom mais lúdico e bem mais leve se comparado à linguagem que Tolkien adota nos outros livros.

    A editora que o publicou, Allen & Unwin, mostrou-se muito confiante na publicação deste livro e até o nomeou: “Livro infantil do ano” e “Talvez o novo Alice no País das Maravilhas”, como anúncios para promover o livro. Tolkien aparentemente enviou algumas cópias para familiares, estudantes e ex-alunos. Assim como a editora enviou alguns à crítica especializada para pedir a opinião deles.

    Nem preciso dizer que as opiniões foram realmente as melhores, aliás, foi considerado um livro de “universo bastante original, delicioso, envolvente e encantador”; “uma das melhores histórias infantis que já li, o autor tem o dom de contar histórias"; "deveria ser lido e relido por adultos", "um livro maravilhoso"; "O Hobbit pode muito bem se tornar um clássico"; e "deveria estar ao lado de Alice no País das Maravilhas e outros". Os primeiros exemplares logo se esgotaram, e O Hobbit foi um dos mais procurados em feiras de livros, livrarias e até bibliotecas.

    Hoje sabemos que não há dúvida de que O Hobbit é um clássico universal, para todas as idades e todos os tempos. Não vou entrar no mérito de continuar a falar de O Hobbit porque já escrevi uma resenha desse livro porque adoro-o [clique AQUI para ler]. Bem como fiz um post sobre A Jornada do Herói de Bilbo [clique AQUI para ler]. Se você ainda não leu, confira tudo que perdeu!

    De qualquer forma, com sucesso de O Hobbit no Reino Unido e nos EUA (e mais tarde em todo o mundo) ficou claro que cartas começaram a ser enviadas a Tolkien sobre uma sequência, então vamos a ela…

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O Senhor dos Anéis, e Suas Curiosidades


     Com o sucesso do livro anterior, cartas de fãs pediam “mais histórias de Hobbit”, Tolkien até tentou se abster de tal pedido, dizendo: “Acredito que o fim de O Hobbit é um fim apropriado” e “Não há mais nada sobre os Hobbits que precisa ser dito". Ainda assim, também vieram pedidos da editora Allen & Unwin, instigando J.R.R. Tolkien acerca de uma sequência.

    Tolkien, por sua vez, contou-lhes sobre a história "dos dias antigos" (que mais tarde conheceriamos como O Silmarillion) da qual a narrativa de O Hobbit se passa no mesmo universo. Porém, a obra em si não era voltada para crianças e jovens e nela não havia hobbits, então Tolkien foi orientado a escrever outro enredo...

    Tolkien começou a história do "Novo Hobbit" no mesmo ano, em 1937. No entanto, O Senhor dos Anéis, que Tolkien escreveu durante a Segunda Guerra Mundial, não foi publicado até 1954. Deveria ser um livro único, mas no final por questões orçamentais [o livro tinha cerca de 1.400 páginas] teve que ser dividido em três partes “A Sociedade do Anel”, “As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”. Mas, apesar disso, O Senhor dos Anéis não deveria ter sido uma trilogia, sim um grande épico que só pode ser entendido em seu todo.

    Com sua trama voltada para um público mais jovem & adulto, seus apêndices e linguagem inventada, diferentemente de seu antecessor Infantojuvenil [O Hobbit], a editora Allen & Unwin teve receio de publicá-lo. E mesmo para a sua publicação, foi estabelecido que Tolkien não seria pago pelo livro até que a editora recuperasse os custos de publicação.

O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

Versão volume único de O Senhor dos Anéis

Anos após as aventuras em O Hobbit, Bilbo Bolseiro, um dos poucos aventureiros de seu povo, decide sair do Condado e deixar sua considerável herança nas mãos de seu jovem parente, Frodo. Entre as heranças de Bilbo está um anel mágico. Porém, o mago Gandalf, o amigo do aventureiro e velho hobbit, revela a Frodo que o objeto é o Um Anel, a raiz do poder maligno de Sauron, o segundo Senhor das Trevas, que quer governar todos os povos da Terra-Média. 

A única maneira de eliminar a ameaça de Sauron é destruir o Um Anel nas entranhas da montanha de fogo [Mordor] onde foi forjado. A revelação deixa Frodo encarregado desta enorme tarefa e assim ele deve fazer uma perigosa jornada pela Terra-Média, mas não estará sozinho, outros companheiros o acompanharão nesta perigosa jornada para o leste. Assim começa a luta dos representantes dos Povos Livres que se opõem ao poder maligno do Lorde das Trevas.

Sinopse O Senhor dos Anéis

    Se a editora Allen & Unwin estava preocupada, foi em vão. A história encantou jovens e adultos com seu enredo mais longo e imersivo, suas inúmeras mudanças de paisagem e personagens, seus detalhes em um mundo imaginário absolutamente convincente, com apêndices e explicativos extras sobre "a história" daquele mundo, suas línguas, cronologia narrativa e outras informações adicionais sobre a fantasia que Tolkien criou. Tolkien logo começou a ver os frutos de seu enredo.

    O mundo da fantasia ficou completamente abalado e admirado com a obra O Senhor dos Anéis, o autor tornou-se referência no tema. Até então, ninguém havia apresentado um universo literário de fantasia tão denso e cheio de camadas quanto Tolkien.

  Mas o livro não agradou a todos, e quanto a isso Tolkien disse:

Alguns que leram o livro e criticaram de alguma forma acharam-no enfadonho, absurdo ou desprezível; e não tenho motivo para me queixar, visto que tenho opiniões semelhantes sobre as obras deles, ou sobre os tipos de escrita que eles evidentemente preferem. No entanto, mesmo muitos que gostam da minha estória têm algo do que não gostar. Numa longa estória pode não ser possível agradar a todos em todos os pontos, nem desagradar a todos nos mesmos pontos; pois descobri, pelas cartas que recebi, que todas as passagens ou capítulos que para alguns são um defeito são especialmente aprovados por outros. Até mesmo o leitor mais crítico (eu mesmo) encontra agora muitas falhas, pequenas e grandes, mas, felizmente, não tendo obrigação de criticar ou reescrever o livro, assim ignoro tais falhas em silêncio, exceto uma que outros notaram também: o livro é curto demais.

As Cartas de Tolkien, 1966


    Recomendo que, quem está começando a ler O Senhor dos Anéis, tenha paciência. Embora a estrutura central do livro, espinha dorsal da narrativa, seja a “jornada de destruição de um objeto maligno”, obtemos muitas informações sobre o mundo criado por Tolkien e muitas vezes podemos nos perder. O autor vai ser bem prolixo, e minha dica é “sente-se, tenha paciência e aproveite a paisagem”.

    O personagem principal poderia muito bem ser a própria Terra-Média, considerando quantos capítulos o autor dedica para falar sobre ela, então não se assuste ao encontrar descrições extensas dos ambientes, linguas e da história de seus povos. É como se você estivesse em uma jornada e ao mesmo tempo ouvísse histórias, narradas por outras pessoas ao seu redor, que aconteceram antes de você nascer e culminaram nessa jornada. Você não tem obrigação de entender tudo, mas de tirar proveito de cada parte. Certo?

Uma dica:  Quando estiver lendo os livros, principalmente os apêndices de Senhor dos Anéis, vale a pena "dar um google" quando quiser entender melhor sobre algum personagem, nome, lugar ou objeto mencionado. É só por "o nome + Tolkien" e encontrará breves resumos sobre aquilo online [se não achar em portugues, busque em ingles], para te ajudar a se situar enquanto estiver lendo. 

Isso porque os apêndices trarão um compilado com bastante coisa para saber do universo Tolkien e, para um leitor inicial, pode parecer excessivo, mas ajuda MUITO pesquisar para ter maior compreensão do que Tolkien esta resumindo ali. Se você não pular os apêndices, será recompensado com maior imersão nesse mundo, e também saberá oque aconteceu com cada personagem da Sociedade do Anel. Não perca isso!

    Isso porque O Senhor dos Anéis é na verdade a conclusão das estórias de Tolkien, antes disso teria havido o que o autor chamou de “os tempos antigos”, que mais tarde conheceremos como o Silmarillion, já chego lá. Mas o mundo ainda não estava pronto para ele, então Tolkien escreveu O Senhor dos Anéis como uma sequência de O Hobbit, como lhe foi pedido.

  

O processo que começara na composição de O Hobbit já tinha referências a materiais mais antigos: Elrond, Gondolin, altos-elfos e orcs, bem como vislumbres nascidos espontaneamente de coisas maiores ou profundas ou mais obscuras que sua superfície: Durin, Moria, Gandalf, o Necromante [Sauron], o Anel. Encontrar o significado desses vislumbres e sua relação com as histórias antigas revelou se tornar a Terceira Era desse mundo e sua culminação na Guerra do Anel. Porém eu (...)

Desejava primeiro completar e pôr em ordem a minha elaboração da mitologia e as lendas dos Dias Antigos, [do mundo que criava] que já vinham tomando forma há alguns anos. Eu queria fazê-lo para minha própria satisfação e tinha poucas esperanças de que outras pessoas se interessassem por este trabalho, especialmente porque ele era de inspiração principalmente linguística e começou a fornecer a base “histórica” necessária para as línguas-élficas [que inventava].

As Cartas de Tolkien, 1966


 Então vamos falar dos Dias Antigos...

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Uma observação sobre: O Silmarillion, Contos Inacabados e As Cartas de Tolkien.


     O grande e profundo universo de Tolkien inicialmente limitava-se aos publicados em vida; "O Hobbit" e "O Senhor dos Anéis" [e seus Apêndices], mas outros livros póstumos vieram a acrescentar muito mais informações a este universo e o expandiram. São livros póstumos; "O Silmarillion", "Contos Inacabados" e outros títulos publicados pelo filho do autor, Christopher Tolkien (e outros autores).

    Obviamente que o universo de Tolkien é vasto, o autor literalmente passou sua VIDA tentando torná-lo conciso e interessante a ponto de não conseguir nem publicar suas criações em vida porque nunca estava "bom o suficiente" para ele. No final, Tolkien deixou rascunhos intermináveis para outros organizarem.

    Contudo, esta divisão é necessária; Uma questão que os próprios fãs relutam em entender, "o que foi publicado em vida pelo próprio autor", "o que foi mantido como rascunhos e publicado após sua morte" (organizado por terceiros, não há estória absoluta porque Tolkien deixou muitos rascunhos, incluindo aqueles que contradizem-se). Assim como devemos distinguir o que era apenas inspiração e ainda passível de mudar conforme o autor ia construindo, modificando, repensando e reconstruindo suas ideias (por exemplo, as cartas, que nos mostra como Tolkien mudou de ideia diversas vezes ao longo da vida e não necessariamente tudo o que ele diz nelas colocou na obra, ou seja, inconsistências são criadas).

    Por que estou dizendo isso? É comum ver fãs dizerem “bom, é assim porque li isso em um dos livro (póstumo)” ou “é assim porque Tolkien disse isso em uma carta”. No entanto, deve ser lembrado que Tolkien, como qualquer ser humano, estava propenso a mudar de ideia ao longo da vida. Assim, embora as ideias centrais estivessem arraigadas, os pormenores eram constantemente aprimorados. Dessa forma, há material póstumo (livros e similares) e cartas que se contradizem, portanto não é possível dizer com certeza absoluta que “é assim” porque Tolkien nunca terminou seu trabalho em vida, e é possível observar discrepâncias nos muitos materiais de consulta sobre sua obra. Okay?

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Alguns dos livros Póstumos

    É por isso que o trabalho de Tolkien é chamado de Legendarium, ou seja, um corpo de "lendas de fantasia" com múltiplas estórias que às vezes podem entrar em conflito entre si, que podem se contradizer ou ter "mais de uma versão" em rascunhos (dependendo da fonte onde estás buscando cada informação).

    “O Silmarillion” em si só é tão coeso porque o filho de Tolkien, que o editou, admite: “selecionei e organizei de tal maneira que me parecesse produzir a narrativa mais coerente e com consistência interna”, o que significa que havia diversos outros rascunhos e outras variações da estória discrepantes, e ele montou a que melhor relacionava aos elementos narrativos e estabelecia uma melhor ligação lógica entre as ideias que seu pai pôs nos rascunhos. Por isso, depois, ele publicou outros livros póstumos, aos quais nos ofereceu a leitura de mais de uma versão dos rascunhos, em vez de escolher o que ele considerava o melhor.

     Fica então a dica para fãs que não gostam das adaptações só porque são "diferentes" dos livros [os próprios livros tem suas versões diferentes, viu?], e sejam as adaptações filmes, séries ou jogos, para melhor conseguir curtir e se entreter sem ficar fazendo comparações, é só imaginar que as adaptações são só mais "uma versão diferente" [o que toda adaptação de fato é, em todo caso]. É até mais divertido para mim, porque Tolkien queria "criar uma Mitologia" através de sua fantasia, e toda Mitologia [Mitos e Lendas] que conhecemos verdadeiramente no mundo real tem diversas versões ao longo do tempo e dos vários lugares por onde se espalham, a depender de quem está contando e de que perspectiva.

    Mas você deve estar se perguntando: o que é o Silmarillion? Conte-me sobre aqueles "Dias Antigos".

    Os Dias Antigos, esta era a principal obra de Tolkien, ele começou a escrevê-la antes de O Hobbit. É nessa estória onde ele estabelece as tramas que se passam antes de O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Tolkien morreu antes que este trabalho fosse concluído e montado, mas seu filho Christopher Tolkien o editou e publicou em 1977, com o nome “O Silmarillion”.

     Se você leu O Hobbit e Senhor dos Anéis, mas ainda está curioso em relação a: “O que foi Gondolin e por que é tão especial que Glamdring, Sting e Orcrist venham de lá?”, “Como surgiram os elfos, os anões e os humanos, e quais as amizades e inimizades entre eles ao longo das Eras? Alguém os criou? Como e por quê?”, “O que é Gandalf, há outros como ele? Há outros mais poderosos e hierarquicamente acima dele? Quem são?”, “Como assim tem tipos diferentes de elfos, quais são eles e suas histórias?”, “Sobre os personagens Élficos que conhecemos em O Hobbit e Senhor dos Anéis, qual a história deles e de seus antepassados, seus familiares/ genealogia e o que fizeram nas Eras antigas?”, “Quem foi Eärendil?”, “Qual a história de Beren e Lúthien, e oque isso tem haver com Aragorn e Arwen?”, “Antes de Sauron, existiu outro grande vilão? E, em caso afirmativo, o que ele fez e que impacto deixou na história das Eras antigas e na Era em que se passa O Hobbit e O Senhor dos Anéis?”, “Por que os Anéis foram forjados?”, “Por que os Elfos estão deixando a Terra-Média em O Senhor dos Anéis?”, (dentre outras dúvidas).

    Pois é, se você ficou com essas duvidas, como eu fiquei na época; valerá a pena ler O Silmarillion.


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O Silmarillion, e Suas Curiosidades


    O amor de Tolkien pelas línguas era notório, pois desde cedo ele gostava de inventar línguas, bem como tinha aptidão para desenhar, pintar, poesia e caligrafia. Isso, aliado ao fato de se interessar pela literatura medieval, moldou o que ele fazia em sua fantasia, desde muito cedo.

    A fantasia de Tolkien foi um derivado natural de suas línguas inventadas, pois ele sentia que, a fim de que tais línguas inventadas crescessem e evoluíssem como fazem as línguas reais, elas precisavam de um povo que as falasse, e com um povo vem uma história. Certo? 

    É por que Tolkien amava linguas que as coisas tem mais de um nome na fantasia dele, por exemplo, Gandalf [pode ser também conhecido como Olórin, Mithrandir ou Tharkun] e ele é um mago [ou também chamado de Mago Cinzento, e depois O Branco, mas magos também são chamados de Istari ou Maiar]. É assim com outros personagens, coisas e lugares. E tudo tem uma história, geografia, tempo e povos que possuem seu proprio idioma [daí tantas variações linguisticas]. Logo, é preciso prestar a atenção nas variações linguisticas de cada coisa na obra e na "história" de cada, do contrário perderá alguns detalhes. As vezes é só na segunda, terceira, quarta, releitura que vamos captando melhor os detalhes. Não se assuste com isso. Por isso os fãs ficam fascinados pelo Universo Tolkien e seus multiplos aspectos.

    Tolkien povoou seu mundo com elfos, homens e outras criaturas, enquanto suas duas principais línguas élficas, anteriormente chamadas de gnômico (mais tarde renomeada como Sindarin) e qenya (mais tarde escrito como Quenya), estavam enraizadas na história fictícia e imaginária que ele criava. Logo depois, Tolkien começou a escrever versões em prosa dessa fantasia, que para ele era mais como uma invenção de sua própria mitologia, chamando-as de "histórias dos Dias Antigos".

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De todos os idiomas criados por Tolkien, o mais popular sempre foi o Quenya, os fãs mais nerds ao redor do mundo até aprendem-no. Já vi trechos da Bíblia traduzidos para Quenya e tudo. Será que algum fã traduziria O Pequeno Príncipe para Quenya, por mim? 

    Concordemos que Tolkien foi inovador ao propor compor uma pseudo-mitologia fantástica, ou seja, uma mitologia artificial com elementos detalhados que simulam a estrutura de mitologias reais.

    Mas o que você quer dizer com Dias Antigos? E o que são Eä, Arda e Terra-Média?

[que significa "ele é" ou "aquilo que é" na língua dos Elfos], é o universo criado por Eru Iluvatar e os Ainur através de uma canção. Eru Iluvatar é uma espécie de deus “único”, um tipo de criador absoluto do mundo de Tolkien [sim, muito semelhante às religiões monoteístas], enquanto os Ainur são espíritos divinos, criados pelo Único.

Enquanto que Arda [na linguagem dos elfos significa "reino"] é o mundo que existe dentro de Eä. Este mundo foi dada aos filhos de Ilúvatar, os primogênitos (elfos) e os mais novos (humanos). Muitos dos Ainur queriam descer sobre Arda e formá-la para a chegada dos filhos de Ilúvatar, estes que desceram são chamados de Valar, e seus "assistentes" de Maiar. Quatorze grandes Ainur tornaram-se os bons Valar de Arda. Mas o décimo quinto, Melkor, desviou-se de seu bom caminho ao desafiar Eru Iluvatar antes mesmo de descer em Arda, corrompeu-se e tornou-se conhecido como Morgoth, o primeiro Lorde das Trevas (as vezes traduzido também como Primeiro Senhor Sombrio ou Senhor das Trevas). Ele teve um seguidor, um Maiar, Sauron, que era seu tenente e mais tarde o sucedeu, passando a ser conhecido como o Segundo Lorde das Trevas (as vezes traduzido também como Segundo Senhor Sombrio ou Senhor das Trevas).

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Enquanto Terra-Média/ Middle-Earth [uma variante moderna da palavra do inglês antigo "middangeard", que significa "o lugar onde vivemos"] é uma vasta área de terra, um continente, de Arda. Onde acontece a maioria das estórias, como as que lemos em O Hobbit e O Senhor dos Anéis.

    Assim, em O Silmarillion lemos um pouco dos “contos dos dias antigos” deste universo, mundo e lugares criados por Tolkien, desde a criação, os povos e os principais conflitos, guerras e afins ao longo do tempo em seus respectivos lugares, geografia e língua distinta entre os povos e outras criaturas deste universo.

 
O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

Em Em O Silmarillion temos a criação do universo Eä [na primeira parte chamada Ainulindalë, que nada mais é do que um mito da criação]. Seguido por Valaquenta, que basicamente conta uma descrição dos Valar e Maiar (como parte de Eä, bem como suas naturezas, vínculos e o poder de cada um). Segue-se então com o Quenta Silmarillion (que explica as principais complicações e guerras antes e durante a Primeira Era do Mundo, como as Silmarils que dão nome ao livro, trará muitos personagens e suas tramas, bem como questões relativas às terras, como Valinor, Beleriand, Númenor e Terra-Média [locais de Arda]).

Então segue-se Akallabêth narrando A Queda de Númenor e seus habitantes [baseado nos mitos de Atlântida]. E finalmente receberemos um resumo sumarizado da Segunda e Terceira Eras do Mundo, sendo a Terceira melhor representada em O Hobbit e O Senhor dos Anéis.

Sinopse de O Silmarillion

    P.S: Já escrevi sobre Atlântida bem Aqui. Não perca.

     Mas, voltando a O Silmarillion, minha dica é que leia este devagar, é um livro de quantidades de páginas razoável, porém a estória é complexa em diversos pontos trazendo muitíssimos detalhes para apreender. Por isso leia com calma e paciência, não queira tentar ler tudo rapidamente, pois a narrativa aqui cobrirá muitas situações em poucas páginas, por isso demanda atenção. Muitos fãs chamam esse livro de “A Bíblia do universo Tolkien”. 

    Vale a pena fazer anotações para não se perder, e continuar a buscar online mais resumos de nomes, personágens, lugares e coisas que estão te confundindo, pois a internet ajuda a sintetizar acontecimentos, traça características básicas de enredo, lugares e personagens, com a finalidade de transmitir a ideia geral. E isso ajuda o leitor a se situar melhor no que está lendo, se for sua primeira vez lendo!

    Uma "crítica" que tenho a O Silmarillion é que ele é muito "resumido"; Juro que, na minha opinião, cada capítulo poderia vir a ser um livro de umas 300 páginas cada, levando em conta a quantidade de informações, personagens, situações, guerras e relações de amizade e inimizade entre personagens, famílias e povos ao longo da trama [eu teria amado]. Se fosse assim, teriamos menos um resumo [pois é isso que é O Silmarillion], e mais tempo para conhecer os personagens, povos e situações da trama com reais diálogos e desenvolvimento. Mas, tenho que me contentar com o que tenho, e ainda sim, cada capítulo era incrível para mim e me prendeu na estória contada [é justamente porque eu amei a narrativa que desejo que fosse ainda mais do que é], ainda que fossem mais como um compêndio dos "Dias Antigos".

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Dentro da Ficção

   

    De qualquer forma, adoro como Tolkien sugere que ele está apenas traduzindo o material que encontrou em uma velha caixa vermelha. Sendo assim, O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion [que juntos são oque na obra é chamado de "Livro Vermelho do Marco Ocidental"] e podem ser compreendidos, de forma fictícia, assim:


Lá e de Volta Outra Vez (memórias de Bilbo) – Trazido para nós, por Tolkien, com o título “O Hobbit”.

•É divertido pensar que O Hobbit é mais leve e dinâmico porque Bilbo contou essas histórias para as crianças do Condado (contou em partes, mas não tudo, porque na época não tinha terminado o livro ainda). Mas explica porque a narrativa desse livro ganha um tom mais infantojuvenil. Gosto de pensar que Bilbo teve felicidade ao contar isso aos pequenos, ao mesmo tempo que foi uma forma de homenagear aquela jornada, sem transformá-la em uma história dolorosa para Bilbo.


A Queda do Senhor dos Anéis e O Retorno do Rei (memórias de Frodo, complementadas pelos relatos de seus amigos e pelo conhecimento dos Sábios, sobre a Guerra do Anel) — Trazido para nós, por Tolkien, com o título "O Senhor dos Anéis".

•Enquanto O Senhor dos Anéis é muito mais detalhado, prolixo e complexo porque pretende ser um 'relato histórico' do ponto de vista, principalmente, de Frodo, e dos hobbits, dos camaradas próximos e alguns sábios que estiveram com eles nessa jornada. Dai ser mais voltado para o público Jovem & Adulto.


Traduções do Élfico (com trechos da tradição élfica dos Dias Antigos, traduzidos por Bilbo, do Élfico para Westron [lingua-comum], em Valfenda) — Trazido para nós por J.R.R.Tolkien e Christopher Tolkien, com o título "O Silmarillion".

•O Silmarillion tem o tom neutro de um compêndio, de contos e lendas antigas resumidos e contado a nós, que nos diz o que precisamos saber de forma compilada. Achei divertido lê-lo enquanto imaginava Bilbo me contando ou que eu estivesse lendo algo que ele escreveu. E aqui o tom assumido por Bilbo não é infantojuvenil porque o objetivo da compilação era puramente acadêmico.



    E todos os livros póstumos depois de O Silmarillion, caso vá lê-los, podemos imaginar como estudos de terceiros de outros rascunhos não utilizados na “obra encontrada e traduzida por Tolkien”. Divertido, não é?

    É por isso que muito da estória desses livros parecem estar sendo "contadas" a nós, ao invés de apenas "narradas". É um dos motivos pelos quais é uma ótima fantasia. De qualquer forma, Tolkien é um excelente contador de histórias.

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Contos Inacabados, e Suas Curiosidades


     Gosto de dizer que esse livro é como aqueles materiais extras de cenas “deletadas ou não utilizadas”, mas que fãs adoram, sabe? Afinal aqui em Contos Inacabados lemos rascunhos que por diversos motivos não chegaram a compor O Hobbit, O Senhor dos Anéis ou O Silmarillion. Porém, o filho de Tolkien achou que seria interessante publicar, e assim foi. Não adianta ler este sem ler os outros três livros anteriores, certo? E muitos fãs podem optar por parar em O Silmarillion, mas ressalto que há estórias nesse aqui que se somam a essas outras, e para os fãs isso é sempre um deleite.

    Escrevendo sobre apêndices, J.R.R. Tolkien disse em 1955: "Aqueles que valorizam os livros apenas como 'épicos heroicos' e consideram 'panoramas inexplicáveis' como parte do efeito literário desprezarão os apêndices [extras e acréscimos], e o fazem bem."

    Portanto, Contos Inacabados (bem como qualquer outro depois dele) é para aqueles fãs que ainda não exploraram o suficiente de Arda, suas línguas, suas lendas, sua política e seus reis, e querem saber mais e mais, sobre o universo criado por Tolkien, é para os fãs fascinados que nunca estão totalmente satisfeito e estão sempre dispostos a ler um pouco mais acerca de outros detalhes dessa fantasia encantadora. Para esses fãs, Christopher Tolkien editou e apresentou-nos esta coleção de contos, com esboços e rascunhos, de seu pai.

  
O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

Contos Inacabados de Númenor e da Terra-média é uma coletânea de narrativas que vão desde os Dias Antigos até o final da Guerra do Anel. Dentre os contos que você lerá aqui há, por exemplo, um relato de Gandalf sobre como ele enviou os Anões para Bolsão, uma descrição detalhada sobre a organização militar dos Cavaleiros de Rohan, além de um relato alternativo da lenda dos filhos de Húrin.

A obra contém, ainda, a única estória que restou sobre Númenor, antes de sua queda, e tudo o que se conhece sobre temas como os Cinco Magos, as Palantíri ou a lenda de Amroth. Os contos foram reunidos e editados pelo filho e herdeiro literário do autor, Christopher Tolkien, que fornece um breve comentário sobre cada um, ajudando o leitor a preencher as lacunas e a colocar cada qual no contexto dos demais escritos de seu pai.

Sinopse de Contos Inacabados

    Se você chegar neste aqui que já é uma espécie de "extra", Contos Inacabados, terminá-lo e ainda desejar mais livros: Então vá em frente e compre quantos livros de Tolkien desejar, fique a vontade para escolher outros quaisquer que lhe chamarem mais atenção, Beren e Lúthien, Os Filhos de Húrin, A Queda de Gondolin, A Queda de Númenor, que são livros que vão explorar novos rascunhos de textos que já foram sumarizados e contados em O Silmarillion.

     Porém, se chegar em Contos Inacabados e já lhe for suficiente, tudo bem também, já sabes o suficiente do universo Tolkien.

   Atenção: Entrando nos méritos de livros "extras" que acho que seriam interessantes para um leitor que está começando a conhecer esse universo, se você está lendo O Silmarillion, O Hobbit e O Senhor dos Anéis, que são os 'fundamentais' pra entrar nesse universo' (ou se já os leu, mas quer entender melhor, antes de ir para Contos Inacabados e outros), se você achar difícil entender a geografia e os locais mencionados nos livros ao longo da trama do universo de Tolkien, o livro “O Atlas da Terra Média” será muito útil; fornece não apenas mapas, mas também informações sobre as viagens/jornadas de povos/personagens importantes através dos mapas, com breves resumos de localizações de lugares importantes e onde ocorreram batalhas, resumindo a estória a que cada mapa se refere e, o mais importante, abrange a geografia e suas mudanças ao longo das Eras narradas nos livros. Acho que este é um livro “extra” muito interessante, que vale a pena conferir durante/ou depois da leitura de O Silmarillion, O Hobbit e O Senhor dos Anéis, porque o Atlas ajudará a se situar ao longo dessas estórias.

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As Cartas de Tolkien sobre Eä e seu Mito Cosmogônico


O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

     Cosmogonia geralmente se refere a relatos míticos da criação e da ordem do universo. Também pode ter relação com o surgimento dos seres humanos. Como você pode ver, Tolkien cria um mito cosmogônico em O Silmarillion. Mas ele também falou sobre isso em suas cartas, quando ainda vivo, então vou destacar algumas coisas delas.

    Observação Importante: Eu irei resumir e sumarizar as cartas, podes ter certeza que elas são bem maiores, mais complexas e mais rebuscadas na integra. Porém, meu objetivo é simplificá-las para que novos fãs possam entendê-las sem muitas dificuldades (se quiser lê-las na íntegra, compre o livro “Cartas de J.R.R. Tolkien" ou pesquise-as online em inglês,). Dito isto, vamos lá...

Eru, o Único, fez um acréscimo ao Design [de seu mundo]: introduzindo os temas dos Eruhîn, os Filhos de Deus, Os Primogênitos (Elfos) e os Sucessores (Homens), a quem os Valar foram proibidos de tentar dominar pelo medo ou pela força. Naquela época também comecei a inventar alfabetos. Esta “questão dos Dias Antigos” estava numa forma até coerente. E ‘O Hobbit’ não pretendia ter nada a ver com isso tudo. Eu tinha o hábito, enquanto meus filhos ainda eram pequenos, de inventar e contar oralmente, às vezes de escrever, ‘estórias infantis’ para sua diversão particular. O Hobbit pretendia ser uma dessas. Não tinha nenhuma ligação necessária com a minha ‘mitologia’, mas naturalmente O Hobbit foi atraído por esta construção dominante na minha mente, fazendo com que a estória se tornasse maior e mais heroica à medida que avançava [e acabasse por compartilhar do mesmo universo e mundo]. O Hobbit viu a luz e fez minha ligação com a editora Allen & Unwin por acidente. O Hobbit não era conhecido por ninguém, exceto pelos meus filhos e pelo meu amigo C.S. Lewis; mas emprestei-o à Madre Superiora de Cherwell Edge para diverti-la enquanto se recuperava de uma gripe. Chegou assim ao conhecimento de uma jovem, estudante residente na casa ou amiga de uma, que trabalhava no escritório da editora A&U. Então foi publicado. Eu então [depois] lhes ofereci as lendas dos Dias Antigos, mas recusaram. Eles queriam uma sequência. Mas eu queria lendas heroicas. O resultado foi O Senhor dos Anéis…

Cartas de Tolkien, 1964


Você pediu um breve esboço das minhas ideias que está conectado com o meu mundo imaginário. É difícil dizer qualquer coisa sem dizer muito (…) mas acrescentarei um mero resumo do conteúdo. (…) Em ordem de tempo, crescimento e composição, tudo isso começou comigo, embora eu não suponha que isso seja de muito interesse para ninguém além de mim mesmo. Quer dizer, não me lembro de uma época em que não o estivesse construindo. Muitas crianças inventam, ou começam a inventar, linguagens imaginárias. Estou nisso desde que comecei a escrever. Mas nunca parei e, claro, como filólogo profissional (especialmente interessado em estética linguística), mudei de gosto, melhorei em teoria e provavelmente em ofício. Por trás das minhas estórias existe agora um nexo de linguagens (…) àquelas criaturas que em inglês chamo (...) de Elfos atribuí duas línguas relacionadas e quase completas (…). Dessas línguas são feitos quase todos os nomes que aparecem em minhas ‘lendas’ [de fantasia]. Isto confere um certo carácter (uma coesão, uma consistência de estilo linguístico e uma ilusão de historicidade) à nomenclatura. Nem todos considerarão isso tão importante quanto eu, já que sou amaldiçoado por uma sensibilidade aguda em tais assuntos. (…) Não ria! Mas houve uma época (minha crista já caiu há muito tempo) que eu tinha a intenção de criar um corpo de lendas mais ou menos conectadas, variando do grande e cosmogônico ao nível do conto de fadas romântico (…) aos quais poderia dedicar simplesmente: à Inglaterra; para o meu país.

Cartas de Tolkien, 1951

 

Os Valar ou “poderes, governantes” foram a primeira “criação”: espíritos racionais ou mentes sem encarnação, criados antes do mundo físico (Estritamente, esses espíritos eram chamados de Ainur, sendo os Valar apenas aqueles dentre eles que entraram no mundo após sua criação, esses ocupam o lugar imaginativo de Deuses, mas não o lugar teológico de Deuses). Os Ainur participaram da construção do mundo como “sub-criadores” Eles interpretaram de acordo com seus poderes e completaram em detalhes o Desígnio que lhes foi proposto pelo Único (…). Os Valar e seus assistentes inferiores (os Maiar) (...) foram eles que se “apaixonaram” pela visão do mundo criado e (…) foi por causa do seu amor por Eä, e por causa do papel que desempenharam na sua criação, que eles desejaram e puderam encarnar-se em formas físicas visíveis (...). Elfos e Homens eram chamados de “filhos de Deus”, porque eram, por assim dizer, um acréscimo privado ao Projeto, do Criador, e no qual os Valar não tinham parte. Os Valar incorruptos, portanto, ansiavam pelo surgimento dos Filhos (elfos e homens) e os amaram quando surgiram (despertaram), como criaturas “outras” além deles mesmos, independentes deles e de sua arte, eram como “crianças” para eles, como sendo mais fracas e mais ignorantes que os Valar, mas de linhagem igual (derivando diretamente do Único). Por outro lado, Melkor/Morgoth e seus seguidores (dos quais Sauron era um dos chefes) viam neles (Elfos e Homens) o material ideal para súditos e escravos, de quem eles poderiam se tornar senhores e “deuses”, pois invejavam aquelas Crianças e odiavam-nas secretamente. Assim em proporção, fez com que tais se tornassem rebeldes contra o Único.

Cartas de Tolkien, 1951


Em nenhum lugar a natureza dos “Feiticeiros/ magos” [também chamados de Instari ou Maiar] é totalmente explícita. (...) Parece que eles eram, como se poderia dizer, quase equivalentes no modo desses contos de anjos, anjos da guarda.

Cartas de Tolkien, 1951


De qualquer forma, tudo isso preocupa-se principalmente com a Queda, a Mortalidade, e a Máquina. A Queda é sempre inevitável. A Mortalidade (…) desejo ligado a um amor apaixonado pelo mundo e, portanto, o sentimento de mortalidade trás insatisfação (...) assim é possível tornar-se possessivo, apegando-se às coisas feitas como “suas” e rebelar-se-á contra as leis do Criador – especialmente contra a mortalidade. Tudo isso, [Queda, Mortalidade e Máquina] (sozinho ou juntos) levarão ao desejo de Poder. (… ) assim à Máquina vem por último, pretendo aqui dizer acerca de todo o uso de planos ou dispositivos externos (aparelhos) em vez do desenvolvimento dos poderes ou talentos internos inerentes, ou mesmo o uso desses talentos com o motivo corrompido de dominar: destruir o mundo real, ou coagir vontades. A Máquina é a nossa forma moderna mais óbvia [disso].

Cartas de Tolkien, 1951


Nesta mítica “pré-história” [da mitologia criada para Os Dias Antigos] a imortalidade (...) fazia parte da natureza dos Elfos. Já a mortalidade, que é um curto período de vida, é a natureza dada aos Homens. Os Elfos chamavam a 'mortalidade' de “Dádiva de Ilúvatar”, ou seja, algo que deus concedeu aos homens. (…) Assim um Homem 'mortal' provavelmente tem (diria um Elfo) um destino mais elevado, embora ainda não revelado, do que um destino longevo como o dos elfos. Tentar, por artifício, maquinas ou “mágica”, conseguir a longevidade é, portanto, uma suprema loucura e maldade dos “mortais”. Longevidade ou falsa 'imortalidade' (pois a verdadeira imortalidade está além de Eä, com Iluvatar) é a principal isca de Sauron para aprisionar os filhos do Único. A “rebelião do livre arbítrio” que vemos precede a criação do universo (Eä); e Eä tem em si, introduzido de forma subcriativa, o mal, as rebeliões, os elementos discordantes de sua própria natureza. A queda ou corrupção, portanto, de todas as coisas e de todos os seus habitantes, era uma possibilidade, senão inevitável. As arvores podem se estragar. Os Elfos podem virar Orcs, tanto quanto podem desejar morrer, homens podem almejar a imortalidade. Até mesmo os “bons” Valar que habitam o Mundo poderiam pelo menos errar e os Maiar (também chamados de Istari ou magos) poderiam, de várias maneiras, tornar-se egoístas”.

As Cartas de Tolkien, 1958


     Esses textos levam muitos fãs a apontar que Tolkien odiava máquinas e tecnologia e as considerava más, assim como qualquer habilidade ou talentos naturais que as pessoas usassem para maldades. Alguns fãs também apontam que ele não gostava de máquinas porque elas arruinaram os espaços verdes do mundo durante a industrialização. Na obra dele, as máquinas e a tecnologia são geralmente vistas como um mal que corrompe a natureza. 

    Mas isso não significa que podemos dizer que Tolkien era completamente contra elas, no fim Tolkien era um produto do seu próprio tempo, viveu duas Guerras Mundiais e a ascensão de uma era Industrial, ele tinha razões para olhar para estas coisas sob uma luz negativa...

…Contudo, ele também usou tecnologia, maquinas de escrever cada vez mais modernas eram-lhe um trunfo, e ainda sim; Tolkien diz em uma de suas cartas que escreveu e reescreveu (a mão, e depois na máquina de escrever) O Hobbit e O Senhor dos Anéis duas vezes na ÍNTEGRA. Ele certamente apreciaria o Word e CTRL+C/CTRL+V, não é? Além disso, se ele não tivesse que gastar tempo e recursos com as máquinas de escrever daquela época, talvez tivesse mais tempo para terminar e publicar suas estórias enquanto ainda estava vivo. 

    O que quero dizer é que as máquinas e a tecnologia tem seus pontos positivos e negativos, assim como as pessoas podem ter dons e talentos e usar para o bem ou para o mal. Vejamos então os dois lados, antes de exaltar ou demonizá-las.

    Informo que nem todas as cartas de Tolkien são sobre seu mundo de fantasia, e se comprar esse livro só por curiosidade em relação a isso pode se frustrar como eu em relação a outras cartas sobre outras temáticas. Por outro lado, essas cartas também delineiam a religiosidade e as formas de Tolkien de pensar o mundo [real e fictício], bem como sua maneira de pensar sobre a fantasia que ele estava criando.

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     Sobre oque Tolkien pensava do mundo que ele criou; Um outro livro de “extras” que pode ser interessante para fãs é A Natureza da Terra-Média. Aqui você encontrará informações sobre: “Beleza e Bondade”, “Gênero e Sexo”, “Destino e Livre-arbítrio”, “Espirito”, “Reencarnação élfica”, “formas visíveis dos Valar e Maiar”, dentre outros textos sobre as características diversas acerca do mundo criado por Tolkien. Eu achei o livro bem interessante e gostei de lê-lo depois de Contos Inacabados; para mim foi como um “perguntas e respostas” entre Tolkien e seus fãs sobre algumas coisas que deixam dúvidas.

 Extra -
  Tolkien e Religião

    É notório a relação do Mito Cosmogônico de Tolkien com a Bíblia, e assim podemos ver a influencia da religião na obra dele.

    Como na Bíblia/Gênesis, O Silmarillion narra um "mito" de criação de mundo, com ascensão e queda de reinos, povos variados e luta do bem contra o mal (a bíblia também é tipo isso). Mitos de início (gênesis) e fim (apocalipse), bem como toda a cagada que acontece entre o início e o fim. Em Tolkien o Genesis é Ainulindalë, e Apocalipse é Dagor Dagorath.

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    Essa analogia a Silmarillion ser similar a bíblia vem dessa ideia, do bem contra o mal, também:

    Lúcifer era um anjo, criação de Deus, que se voltou contra seu criador. Lúcifer era um dos mais altos e prestigiados dos anjos, um querubim, e seu nome significava "o iluminado", dentre outras coisas boas. Porém ao se desviar e se voltar contra seu criador, e compelir outros anjos a fazerem o mesmo, ele foi expulso do reino dos céus. Logo, Lúcifer ficou conhecido como "o opositor/Satanás" e seus aliados, antes anjos, agora tidos como "demônios", passaram todos a serem criaturas das "trevas". E então ele e seus aliados tentariam fazer os filhos de Deus [humanos] "se opor" a Deus tanto quanto ele se opôs. E tanto ele e seus aliados e seguidores deixaram de cumprir os propósitos de Deus. Mas no fim, pós apocalipse, o bem e os bons prevalecem.

    Isso me lembra Silmarillion. Sendo Eru (Deus) e Melkor/Morgoth (Lúcifer/Satanás). Melkor era um dos Ainur, que eram muito prestigiados, ele foi criado por Eru, mas decidiu se opor a ele. Deixando de seguir os planos originais de Eru e se tornando assim o primeiro "senhor das trevas/escuro", tendo vindo a Arda como um dos Valar, mas sendo visto como o vilão e causando confusão e contendas ao longo das Eras. Tendo seguidores, servos e escravos a seu comando, e um grande "tenente", de nome Sauron. No fim, Tanto Melkor quanto Sauron afastam os Filhos de Eru (Elfos e Humanos) dos propósitos aos quais se esperava inicialmente deles. Mas no fim o bem prevalecerá.

    Por essa semelhança muitos leitores "bíblicos" fazem essa analogia/comparação. E também é possivel ver isto em O Hobbit e Senhor dos Anéis. Vamos lembrar a frase de Gandalf:

  “Você realmente não acha, não é, que todas as suas aventuras e fugas foram gerenciadas por mera sorte, apenas para seu benefício exclusivo. Você é apenas um sujeitinho em um mundo vasto”.

  Essa frase supõe que houve mais do que sorte guiando cada um dos personagens na obra (Bilbo, Frodo, Gandalf, Sam, Gollum, dentre outros), e nada no enredo foi ‘sorte’ ou uma 'armadura de trama', mas sim 'providência divina'. No final, todas as coisas “cooperaram para o bem”, através desta providência que “não escolhe os qualificados, mas capacita os escolhidos”. E não importa o quanto Melkor e Sauron tente minar seus inimigos, o bem se mostra mais engenhoso na forma como tece o destino e leva o mal à queda.

    No final das contas, nenhum desses personagens que amamos é o verdadeiro herói, acontece que Tolkien é muito sutil ao apontar sua inclinação católica na trama. Mas está lá.


    Mas, fique tranquilo, não tentarei impor a você minhas interpretações religiosas da obra, pois no final tenho as fantasias como um fim ultimo; apenas entretenimento. Por isso gosto tanto dos livros quanto das adaptações, afinal ambos não passam de entretenimento para mim. E não vejo-os como forma de impor quaisquer religiosidade ou temas políticos/partidários.

    E até Tolkien, no final das contas, percebeu que os leitores irão interpretar e tirar conclusões sobre a obra de acordo com a experiência de vida delas próprias, independente das opiniões e intenções dele como autor (isso é completamente normal, todo mundo pode, e tem o direito de expressão e livre opinião, de interpretar uma obra a sua própria maneira, tentar monopolizar uma única forma de ler/ver uma obra é egocentrismo, se não tirania).


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As Cartas de Tolkien: alguns outros pontos para refletir


     Aqui estão alguns pontos para ajudá-lo a pensar criticamente sobre o conceito deste universo, no que se refere às cartas de Tolkien.

1) Primeira problemática na mitologia de Tolkien: Geografia.

    O autor “finge e brinca” com a ideia de que sua fantasia é “na verdade” textos que ele “encontrou e traduziu para nós”. Ele parecia determinado a criar uma "[pseudo]mitologia para a Inglaterra". O próprio Tolkien diz em suas cartas:

Tive uma paixão igualmente básica por mitos (não alegorias!) e por estórias de fadas e, acima de tudo, por lendas heroicas no limiar entre contos de fadas e história, de que há tão pouco no mundo (que me é acessível) para meu apetite (…) desde cedo eu era afligido pela pobreza de meu próprio amado país: ele não possuía histórias próprias (relacionadas à sua língua e solo), não da qualidade que eu buscava e encontrei (como um ingrediente) nas lendas de outras terras. Havia gregas, celtas e românicas, germânicas, escandinavas e finlandesas (que muito me influenciaram), mas não inglesas, salvo materiais de livros de contos populares empobrecidos (…).

Cartas de Tolkien, 1956


     Então ele decide criar sua própria ideia de mitologia para a Inglaterra, criando-a através de sua própria fantasia:

Tenho uma mente histórica. A Terra-Média não é apenas um mundo imaginário. É este mundo, este em que vivemos agora, mas o período histórico é imaginário, o tempo é imaginário, mas mantive os pés na minha própria mãe terra como lugar. Imagino que a diferença seja de cerca de 6.000 anos (…). Tive a intenção de criar um corpo de lendas mais ou menos interligadas (…) que eu poderia dedicar simplesmente à Inglaterra, ao meu país. Deveria possuir o tom e a qualidade que eu desejava, um tanto sereno e claro, com a fragrância do nosso “ar” (o clima e solo do Noroeste, isto é, da Grã-Bretanha e das regiões europeias mais próximas; mas não a Itália ou o Egeu, muito menos o Oriente); possuiria (se eu conseguisse alcançá-la) a beleza graciosa e fúlgida que alguns chamam de céltica(…)

Cartas de Tolkien, 1958


    O maior problema que surge disso? Tolkien tornou-se hesitante e reticente sobre a Terra-Média ser o nosso mundo a posterior, em relação a questão da Terra-média ser especificamente a Europa, quando os fãs começaram a traçar paralelos geográficos e étnico-raciais (por exemplo, quando começaram a sobrepor os mapas e dizer que Mordor estaria onde A Itália é hoje, ao ponto em que lhe foram enviadas cartas perguntando se Mordor era uma metáfora para a Itália fascista, Tolkien aparentemente ficou horrorizado com os paralelos que os fãs começaram a ver, o que lhe mostrou que o público nem sempre conseguia separar as suas próprias imaginações e suposições pessoais da obra em si.

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 Já ouviram falar de Doggerland? Pois é, a muito tempo atrás o Reino Unido estava ligado aos outros países da Europa por uma vasta terra (conforme visto no mapa superior). Agora veja o mapa da Terra-Média sopreposto ao mapa atual da Europa (conforme visto no mapa inferior), lembra muito o mapa superior, não é? O tempo também bate.

    Se fizermos tais comparações, então quem seriam os "sulistas, lestenses e orientais" que geralmente são descritos como inimigos [porque são adoradores de Melkor e principalmente seguidores ou escravos maus de Sauron], logo são inimigos dos principais mocinhos na trama...

    E se levássemos isso a sério em questões geográficas e étnicas? Quem vive ao Sul e Leste da Europa Ocidental? E quem seriam os povos de Khand, Rhun, Umbar e Harad que na trama são tachados de inimigos e descritos de forma ruim?

    Tolkien, ao localizar a Terra-Média como a Inglaterra e arredores a oeste, abriu margens para fãs assim pensarem.

    E para aqueles que não sabem, esta carta cria ainda mais controvérsia sobre os lugares que Tolkien deliberadamente deixou de fora ao dizer "mas não a Itália ou o Egeu, muito menos o Oriente". A Europa não é tão unificada como pensamos, e os europeus do Leste [orientais] e do Sul dizem sofrer preconceito e xenofobia por parte daqueles que vivem na Europa Central e Ocidental[do oeste] (exatamente a parcela de terra onde vivem os mocinhos de Tolkien, e onde ele delimitou como local ideal para sua geografia, na carta), em uma fantasia que acusa outros no leste e no sul de serem menos civilizados, mais duros e menos inteligentes (tais são usados até hoje em dia como forma de preconceito).

O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien
Imagem retirada de Brasil Escola

    Em outras palavras, a impressão que se tem (para alguém que concorde que a Terra-Média é a Inglaterra e arredores) é que a trama (principalmente a de O Senhor dos Anéis) gira em torno de líderes, cavaleiros, nobres e reis de classe alta, em sua maioria homens e brancos, junto com um (literalmente) pequeno grupo de agricultores pacíficos que vivem em seu “campo/condado”, juntamente outras raças do Povo Livre do Oeste, que tentam se defender de uma cultura industrializada e repleta de máquinas criadas para o mal, os vilões da estória, chamados de "primitivos" e tachados de “Homens das Trevas”, que em sua maioria viviam no sul e no leste como servos, escravos e adoradores do "grande inimigo", inimigo este que está determinado a corromper a "beleza natural e paz da Terra Média" com suas máquinas nefastas feitas para destruir tudo aquilo que foi outrora criado pelo bem, para no fim ele próprio a todos dominar.

 

2) Outro problema com a pseudo-mitologia de Tolkien: Religião. 

    Não faz sentido que os fãs vejam a imagem de Eru Iluvatar e Morgoth/Melkor (e mais tarde a de Sauron) como um dualismo comparativo entre Deus e Satanás. Além disso, as “crenças católicas e cristãs” baseadas na obra de Tolkien não deveriam fazer sentido, não deveriam funcionar. Por que?

    Um problema anacrônico surge com essa visão “católica ou cristã” da obra de Tolkien, obra essa que se propunha ser como uma mitologia para a Inglaterra, portanto NUNCA deveria ter um viés católico ou cristão (religião que veio do exterior e foi levada aos europeus através de influencia romana). Resumindo: a religião da Terra-Média DEVERIA ser politeísta (como a mitologia celta e nórdica), e não monoteísta como as religiões de base abraâmica (então a narrativa de Tolkien, se ele realmente quisesse escrever uma mitologia para a Inglaterra, NÃO deveria trazer nenhuma conexão católica/cristã nas obras).

    p.s: admiradores desse “anacronismo” de Tolkien podem argumentar, através de uma “brincadeira” [digo “brincadeira” porque vamos lembrar que o próprio Tolkien “brincava” que sua fantasia era “na verdade” uma mitologia que ele “encontrou” e diz-nos “ser apenas o tradutor” desses “textos antigos”], então pode-se “brincar” que ele “como mero tradutor” corrompeu o texto que tinha que "traduzir" inferindo sua própria cosmovisão católica/cristã nela. Divertido, não é?

    Então ambas as problemáticas já ditas se articulam. Temos um escritor, Tolkien, que tolera as crenças católico-cristãs em seu mundo de fantasia (consciente ou inconscientemente), mesmo que esta não seja a religião inglesa de base (que originalmente tinha que ser politeísta porque a Inglaterra antes do cristianismo também era "pagã" como a nórdica e a celta). Mas apesar do enredo de Tolkien aceitar tal religião monoteísta, ele simultaneamente retrata e trata outros povos (incluindo povos de onde verdadeiramente derivam a religião Católica/ Cristã) como escravos ou adoradores e seguidores de Melkor/Morgoth e Sauron. Parece estranho, não é? Como se Tolkien tivesse mudado as coisas de lugar [ainda que inconscientemente].

    Tolkien também trata as máquinas (na obra) como prejudiciais, trazidas pelo mal do leste e usadas como artifícios do inimigo. Mas lembremos que a primeira revolução industrial começou na Inglaterra, e não no estrangeiro [novamente parece que as coisas mudaram de lugar, não é? Ainda que Tolkien tenha feito isso inconscientemente].

    A obra também acusa os estrangeiros de tentarem “dominar e governar” a Terra-Média pertencente às “nações livres”, quando na nossa história verdadeira os estrangeiros é que eram dominados, via conquistas e explorações através da colonização, pelos países europeus já cristianizados.

    Quando você junta tudo isso, começa a parecer que o trabalho de Tolkien está subconscientemente tentando reverter algumas das principais noções históricas acerca da Europa Ocidental. Portanto, para qualquer fã que afirme com alegria e orgulho que a obra de Tolkien é “católica/cristã” e geograficamente localizada na Inglaterra e arredores próximos, não é possível elogiá-lo sem também criticá-lo pelas distorções apresentadas. Entende?


3) Terceira problemática na Pseudo-Mitologia de Tolkien: Vilões Principais.

    ...No final, ninguém sai da história pensando que Morgoth/Melkor estava certo ou que Sauron foi apenas mal compreendido. Pelo contrário, a trama os apresenta como os vilões máximos do enredo e do universo criado por Tolkien (eles são vilões porque vão causar discórdia, contendas e caos ao longo das Eras, manipular e corromper quem puderem, ponto final). É aqui que entra em jogo a dualidade no mundo de Tolkien (o que alguns fãs-críticos chamam de "maniqueísmo" do universo de Tolkien). O que vemos nos personagens não é “moralidade complexa”, é livre arbítrio para escolher o que fazer e quais caminhos seguir, em um mundo onde o bem e o mal estão bem divididos, só isso.

O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

    Isso torna a pseudo-mitologia de Tolkien completamente caricaturada, ao considerar personagens vilões como absolutamente maus, sem explicá-los ou dar-lhes mais profundidade. Não gostei que Tolkien tenha feito algo como isso com Morgoth/Melkor e Sauron, criar um inimigo sem estrutura de revolta mais preemente ou uma motivação mais consistente, porque sejamos honestos; É muito fácil criar uma narrativa que deixe um lado “certo” e o outro “errado”, uma trama com vilões absolutos e malvados (caricaturais), pois isso elimina a necessidade do autor inventar uma narrativa interessante que explore esses ideais "malignos do vilão" e de alguma complexidade real aos personagens tidos como vilões.

    Assim sobre Morgoth/Melkor e Sauron; é caricatural abordar vilões que ficam maus e permanecem assim, em oposição ao "lado do bem", e sei que isso existe em muitas fantasias. Mas parte do meu descontentamento decorre do fato de que isso NÃO existe desta forma em várias outras mitologias politeístas, então esperava eu ver algo menos caricato na pseudo-mitologia de Tolkien.

    Mas é bem conhecido que existe esse dualismo nas religiões de base católico-cristãs, que é monoteísta. Tolkien continua a usar o mesmo padrão duplo que vemos na Bíblia, onde Satanás é sempre o inimigo, a causa dos conflitos, o corruptor das almas, aquele que se rebela contra Deus, que quer o mal para os filhos de Deus, que os manipula, escraviza e faz com que as pessoas o adorem, e é um mal externo que deve ser combatido. Vemos que esta estrutura é mantida por Tolkien nos personagem Morgoth/Melkor e Sauron.

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Tolkien e a Alegoria Versus Aplicabilidade


Não gosto da alegoria – a alegoria consciente e intencional – mas qualquer tentativa de explicar o significado do mito ou do conto de fadas deve usar linguagem alegórica. (E, claro, quanto mais “vida” uma estória tiver, mais prontamente ela será suscetível a interpretações alegóricas: embora quanto melhor for feita uma alegoria deliberada, mais ela será aceitável apenas como uma estória, [ao invés de uma história]).

As Cartas de Tolkien, 1951


     Se nesta carta acima ele parece menos reticente em relação à alegoria, se tornará mais severo a respeito dela mais tarde. Tolkien (muitos anos depois) disse que não gostava de alegorias, apesar da alegoria aparecer fortemente vinculada ao mundo que criou conforme explicava em suas cartas ao longo da vida. Devemos lembrar, porém, que as cartas apelam mais ao tom de “inspiração do autor”, e não necessariamente é uma regra geral para se considerar na sua obra publicada. Você entende o que quero dizer?

    Esse é o motivo da confusão que alguns fãs fazem em relação ao conteúdo dos livros publicados e as cartas, pois nos livros publicados a alegoria parece muito mais diluída, cada coisa ganha seu nome original e torna mais frágil a ligação da obra com ela, quando publicava ele refinava o texto para não ser uma alegoria [pois ele não gostava delas]. Tudo nas cartas está mais aproximadamente ligado às inspirações de Tolkien em seu trato com a obra, desse modo, nas cartas tudo está a "grosso modo", então as alegorias ficam perceptíveis nelas. Mas os fãs precisam entender que "inspiração" é uma coisa, e o que ele efetivamente punha nos livros é outra coisa [afinal ele diz não gostar de alegorias propositais, logo, não as poria na obra assim].

    Tolkien, porém, quando questionado por outros sobre essas críticas que mencionei aqui, eximiu-se, ele afirma que a alegoria não veio dele, mas sim principalmente de seus fãs que teriam sismado em fazer tais inferências (o que não é verdade no caso da geografia e da religião. Afinal as Cartas provam que o próprio Tolkien levantou a margem para que tais alegorias fossem possíveis, entende?).

    Resumindo; Tolkien disse que a Terra-Média tinha o ar da Europa/Inglaterra ocidental, da Grã-Betanha e arredores pŕoximos. Tolkien misturou as estórias que criou com algumas noções pessoais dele de crenças advindas do Cristianismo/Catolicismo, vemos isso nas cartas na forma como conduz a cosmogonia de sua obra como um monoteismo similar ao Bíblico. Mas depois, com o que Tolkien deu de resposta nas cartas, as coisas saíram do controle à medida que os fãs ecoavam aquilo enfaticamente e muitas vezes com menos cuidado (do que Tolkien) e provocavam polemicas cada vez mais embaraçosas e vexatórias. Então, comparar qualquer coisa, seja positiva ou negativa, do universo dele com o nosso mundo moderno passou a ser um problema.

Foi assim que Tolkien decidiu distinguir Alegoria de Aplicabilidade:

Quanto a algum significado interno ou “mensagem” [na obra], não tem nenhum. [A obra] Não é nem alegórica nem tópica (…) Outros arranjos poderiam ser inventados de acordo com os gostos ou as opiniões dos que gostam da alegoria ou da referência tópica. Mas eu detesto cordialmente a alegoria em todas as suas manifestações e sempre a detestei desde que me tornei bastante velho e cauteloso para detectar sua presença. Prefiro muito a história, verdadeira ou inventada, com sua variada aplicabilidade ao pensamento e à experiência dos leitores. Creio que muitos confundem “aplicabilidade” com “alegoria”; mas uma reside na liberdade do leitor, e a outra, na dominação proposital do autor. É claro que um autor não pode permanecer totalmente imune à sua própria experiência, mas os modos como o germe de uma estória usa o solo da experiência são extremamente complexos, e tentativas de definir o processo criativo do autor são no máximo conjecturas a partir de evidências inadequadas e ambíguas.

As Cartas de Tolkien, 1966


    Explicação:

    *alegoria (ou seja, usar um texto para fazer um símbolo ou referir-se a outro texto, 'alegoria' vem do latim e significa "falar de outra coisa", ou seja; é quando alguém diz algo mas insinua que nas entrelinhas está se referindo a outra coisa). Quando um escritor (ou leitor) usa uma alegoria, ele esta impondo aos seus leitores (e o fã estará impondo a outros fãs) que o simbolismo ao qual o texto se referiu DEVE ser entendido por todos como tal obrigatoriamente, como se aquela fosse a única forma de entender o texto, visto que é uma alegoria diretamente ligada a outro assunto simbolicamente, dessa maneira se torna imperativo que esse "simbolismo" a que o texto se refere alegoricamente seja entendido para melhor compreensão do todo (é por isso que Tolkien chama de “Dominação”).

    *Enquanto que Aplicabilidade é pegar e agregar conhecimentos prévios da experiencia de vida, e ter a capacidade de aplicar, empregar, implementar esse conhecimento a obra. Tanto o escritor pode fazer isso enquanto escreve quanto o leitor pode fazer isso enquanto lê. Mas entenda que, embora possamos APLICAR nossos conhecimentos prévios ao texto, sabemos que essas são apenas as NOSSAS inferências e opiniões acerca da obra, e sendo assim não vamos forçar ninguém a aceitá-las. Porque aqui não se entende o texto como alegórico [não se pensa que o texto faz referencia a outro], e sim que o texto em si está sujeito a interpretações [pessoais] que podem diferir de uma pessoa para outra, conforme cada um APLICA suas experiencias pessoais para entende-lo. Dessa maneira, todos têm a liberdade de ler e interpretar a trama, cada um à sua maneira, seja positiva ou negativamente (por isso Tolkien diz que esta reside na “liberdade”).

    Um exemplo: Tolkien, apesar de ser amigo de C.S. Lewis, não gostou de Cronicas de Nárnia (por muitas razões), mas uma delas era porque achava a obra alegórica demais. Sendo então um exemplo de obra onde o autor emprega suas crenças fortemente, não deixando muito espaço e liberdade ao leitor de imaginar por si mesmo.

    Tolkien então diz que não gosta de alegorias e prefere aplicabilidade. Ele opta pela liberdade, tanto em relação a si mesmo como escritor quanto para seus fãs, de que cada um interprete a obra como quiser, “aplicada à experiência” de cada pessoa. Tolkien possivelmente entendeu que “ele é dono do que escreve, mas não é dono do que o leitor entende”. E ele soube lidar bem com isso. Isso é um ponto positivo para ele, mas também…

    ...Ele só chegou a essa conclusão alguns anos depois, quando ficou atolado em cartas de fãs comparando seu mundo ao nosso, com muitos enchendo a boca para dizer "Tolkien fez um trabalho cristão/católico" ou "A Terra-Média é a Inglaterra e Europa e apenas isso, danem-se outros povos, a trama é sobre o nosso povo” ou mesmo “Tolkien escreveu baseado em suas experiências nas guerras”, etc., o autor costumava mostrar descontentamento com essas declarações.

    Então depois disso Tolkien aparentemente diz que o escritor pode ser sim movido a tecer uma trama baseada em suas próprias experiências, mas que ele próprio pode não ter consciência disso tudo, porque há muitas influências ao longo do tempo e algumas que nem o próprio escritor tem consciência certeira, dado que as fontes de inspirações são muitas e mudam o tempo todo quando se está escrevendo algo [ele está bastante certo até certo ponto], daí ele afirma que quando os fãs tentam definir como foi o processo criativo e quais influências o autor pode ter usado propositalmente, diz que sempre serão suposições de fãs "antiquadas" e "pouco claras". 

    Assim também me pareceu uma jogada muito inteligente dele para escapar ileso de quaisquer críticas e comparações que os fãs fizessem do mundo dele com o nosso, e diante de qualquer uma, como as que EU mencionei anteriormente, a “culpa” seria sempre os fãs “vendo demais”. Entende parte do meu desagrado com a resposta dele? [digo “parte”, pois eu confesso que achei genial a separação que ele fez entre “alegoria versus aplicabilidade”, independentemente do “porque” ele ter tido que fazer isso).

    Sendo assim ele poderia usar seu texto sobre “alegoria versus aplicabilidade” para então culpar-me por comparar a Terra-Média ao mapa da Atual Europa, tanto quanto culpar-me-ia por levantar/ver ideias cristãs/católicas dentro da obra, e vincular a estória dele a história do nosso mundo, diria que é apenas eu usando experiencias e conhecimentos meus e aplicando-os na obra dele (e tudo bem, eu poderia fazer isso, desde que não obrigasse os outros a ver o mesmo que eu, e também reconhecesse que 'é minha forma de interpretar', não podendo necessáriamente afirmar que 'o autor que quis assim'). 

    No entanto, Tolkien trouxe isso nas cartas, então as principais comparações dos fãs com a geografia e a religião foram culpa do próprio Tolkien. Se não houvesse cartas que deixassem margem para tais suposições e alegorias, os fãs nunca teriam tido tanto espaço para formular ideias comparativas entre o mundo que ele criou e o nosso. Entende?

    Foi por isso que Tolkien teve que escrever sobre Alegoria versus Aplicabilidade. E mesmo assim muitos fãs usaram [e usam] esta margem das cartas para fazer comentários xenófobos e racistas inclusive (e usando Tolkien como um "escudo" para falas preconceituosas, fãs que não assumem responsabilidade por suas próprias palavras e afirmam "mas Tolkien disse isso na carta, não sou eu quem está dizendo isso".

    A imaturidade de alguns fãs é tão grande que a justificativa é essa? "Fulano disse, então é", essa é a justificativa? Onde está seu próprio senso crítico e responsabilidade para com as coisas que diz? E mesmo que Tolkien tenha dito algo como isso [ou não], isso não absolve você, meu caro fã. Tendo ele dito ou não, não nos exime de pensar ativamente e refutar ideias retrogradas.

    Um exemplo atual; alguns fãs [e haters] da série Aneis do Poder, afirmaram que não poderia ter "elfos pretos, ou quaisquer outros personagens, pois afinal a Terra-Média é etnograficamente a Europa Ocidental, logo personagens que tenham tal origem não podem ser pretos", argumentaram. 

    Os atores de Senhor dos Anéis [os filmes aclamados pelos fãs e críticos] até fizeram uma campanha contra esse pensamento racista acerca da obra, veja:

O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

Campanha de Dominic Monaghan, Elijah Wood e Billy Boyd [atores que interpretaram Merry, Frodo e Pippin] contra comentários racistas na série Anéis do Poder. Camisa representando orelhas de diversas cores etnicas!

     

Sean Astin, ator que interpretou Sam, com um boné da campanha, com as orelhas com diversidade étnica e a frase em elfico algo como "todos são bem-vindos", assim como seus amigos a cima.

      Foi argumentado em contrário que a obra de Tolkien é uma união de diferentes povos que, apesar de suas diferenças e contendas uns com os outros ao longo das Eras, são capazes de se unir e ficar lado a lado para propósitos em comum. Vemos isso com os membros de A Sociedade do Anel (Ou mesmo no final de O Hobbit, na batalha), ou seja, Tolkien ensinou sim boa comunhão entre povos diferentes em suas obras publicadas em vida. E ainda, fãs afirmaram que os personagens de Tolkien demonstram bom caráter e benevolência mesmo para com aqueles que lutavam contra, os personagens fazem isso mais de uma vez, ensinando boas mensagens para seus leitores [aqueles que puderam aprender isso, ao menos].

    Todo fã pode criticar a obra ou as adaptações, isso é direito de opinião. Mas há quem confunda "direito de opinião" com "agressão verbal e preconceitos culturalmente enraizados". Já dei dicas para os fãs saberem lidar melhor com Original versus Adaptação bem AQUI e ja falei sobre 'se o original é melhor que adaptação' bem AQUI.

Por Que Acredito Ser Importante Enfatizar Essas Coisas?

    Há quem use o autor como escudo para fazer comentários xenófobos, racistas, sexistas, homofóbicos, dentre outros preconceitos, quando na verdade essas coisas não vêm do autor, mas sim de quem realmente está dizendo/comentando. Chegou ao ponto de alguns amigos me perguntarem se o autor era racista, elitista, ou sexista. E tudo por causa dos comentários alheios de ditos ‘fãs’, que só estão usando o autor para propagar seus próprios comentários preconceituosos e tóxicos.

    Além disso, preciso ressaltar que foi o próprio Tolkien quem vendeu os direitos de exibição de O Hobbit e O Senhor dos Anéis para adaptações em palco e/ou tela, quando ainda estava vivo. Na época, ele temia que as leis de Direitos Autorais mudassem, então realizou a venda dos direitos, pensando que estava garantindo algo melhor para a família. Mas, infelizmente, não foi esse o caso, pois a Indústria do Entretenimento transformou suas obras em grandes franquias, com a própria família não tendo nenhum envolvimento nas decisões de produção e pouca participação nos lucros (oque, honestamente, já é de se esperar, dado que quando uma empresa compra os direitos ela investirá no negocio da maneira que lhe renda ainda mais lucros).

    Enfim; Senhor dos Anéis (SdA) e O Hobbit foram adaptados para as telas (em versões animadas/desenhos e posteriormente em trilogias de filmes). E a razão pela qual os livros póstumos não têm direitos de exibição é que foram, obviamente, publicados após a sua morte e os seus filhos nunca os venderam (a série da Amazon está adapitando os apendices de SdA).

Versão animada de O Hobbit de 1977, Versão animada de O Senhor dos Anéis de 1978,O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien
Versão animada de O Hobbit de 1977
 
Versão animada de O Hobbit de 1977, Versão animada de O Senhor dos Anéis de 1978,O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien
Versão animada de O Senhor dos Anéis de 1978

    A versão animados de O Hobbit e O Senhor dos Anéis também possuem alguns problemas em relação a caracterização de personagens. Como Aragorn sem calça e parecendo um nativo americano, Boromir como um viking, Thranduil confundido com um goblin/orc, Smaug parece um gato, Elrond com barba. Fora que parece que essa animação compartilha o mesmo universo de “Conan, O Barbaro” e “He-Man”, haha. Ainda sim, a adaptação é bem sombria e tensa, até mais que os filmes da Trilogia Cinematográfica, dificilmente considerariam isso hoje em dia como apropriado para crianças; enquanto os filmes das duas trilogias de Jackson parecem mais caricatos e menos assustadores.

    Muitos que viram essa adaptação animada são fãs até hoje, e alguns não gostaram dos filmes da Trilogia do Anel de Peter Jackson, acusando de ser muito ‘hollywoodiana’, com cenas cliches e dignas de pastiche. Enquanto quem viu os filmes da “Trilogia do Anel” primeiro, não gostam da versão animada, alegando que é grotesca (embora há quem ame ambos). Entra naquela controvérsia, porque tendemos a gostar da versão que tivemos contato primeiro, por questões afetivas.

    E alguns comentários provam que a implicância com a série da Amazon é 95% por questões de racismo de alguns fãs. Vide comentário de exemplo, onde uma pessoa compara a adaptação animada com a adaptação da Amazon, questionando um hater porque ele ama a versão animada que transformou Aragorn em um Nativo Americano, mas odeia a série da Amazon, e ele responde “porque prefiro um nativo americano como Aragorn do que Hobbits negros”:

    De todo modo. Julgar as adaptações por não serem igual ao livro é uma crítica legitima, mas é a justificativa que QUALQUER leitor possui. Tenha em mente que não ser igual aos livros não quer dizer que são ruins.

    Nem preciso dizer que o filho de Tolkien desprezou tanto a versão animada, quanto os filmes de Peter Jackson (Tanto Trilogia do Anel, quanto trilogia O Hobbit”) ...

    ... A família Tolkien nem gostou da trilogia Senhor dos Anéis, disseram que não era a obra que seu pai idealizara, mesmo sendo a trilogia mais premiada do cinema com 17 Óscares.

"...eu considero isso [versão animada de 1978] com aversão, como uma caricatura realmente inacreditável do trabalho de meu pai… Eu desejo sinceramente que não estivessem sendo feitos, e temo seu advento - ainda mais, talvez, as imbecilidades associadas de brinquedos horríveis e cereais especiais para o café da manhã ... parece impossível adivinhar que efeito os filmes terão em última análise… Não vi e não pretendo ver, mas vi um livro com fotos tiradas do filme. Não vou aborrecê-lo com condenações vociferantes e não direi mais do que considero isso com aversão, como uma caricatura totalmente inacreditável do trabalho de meu pai e uma negação de toda a perspectiva imaginativa e estética. Não desejo ser associado a isso de nenhuma forma; nem a United Artists iria querer minha ajuda se conhecesse meus sentimentos!" -Christopher Tolkien.

    Equanto aos filmes da trilogia O Senhor dos Anéis de Peter Jackson, e tão amada pela maioria dos fãs atualmente:

“Eles evisceraram o livro ao transformá-lo em um filme de ação para jovens de 15 a 25 anos. O abismo entre a beleza e a seriedade da obra, e o que ela se tornou, me dominou. A comercialização reduziu a nada o impacto estético e filosófico da criação. Só há uma solução para mim: virar a cabeça” - Christopher Tolkien

    Isso não impede fãs de gostarem das adaptações. Então meus jovens fãs, parem de ficar repetindo igual papagaios que ‘as adaptações são ruins porque são diferentes dos livros, é oque todo mundo diz então eu repito’, tenham opinião própria a respeito. Aprendam também a respeitar seus proprios gostos pessoais e admiti-los, mesmo que sua opinião vá contra a opinião alheia e/ou da maioria!

Filmes Senhor dos Anéis e O Hobbit. Versão animada de O Hobbit de 1977, Versão animada de O Senhor dos Anéis de 1978,O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

    Devo salientar que a New Line (que produziu a Trilogia do Anel) não pagou o que lhes deviam, forçando a família a ir a justiça. Ao final da disputa, ficou decidido que a família Tolkien (Tolkien Estate) tinha direito a royalties de 8% a 10% sobre o valor acumulado nesta adaptação de Senhor dos Anéis, mas também sobre futuras adaptações. Isto significa que quando a Trilogia Hobbit foi lançada, eles receberam royalties por ela, e embora estivessem descontentes com o fato de o trabalho de Tolkien ter se tornado “uma mercadoria comercializável”, eles reclamaram bem menos. Não tenho dúvidas de que esse valor continua sendo pago, inclusive, em relação à série Anéis do Poder. Entendam uma coisa: NADA pode ser adaptado sem que se tenha direitos para fazer isso, desda forma, se há adaptações, é porque os direitos de exibição foram cedidos/ vendidos em algum momento.

Lord of the Rings: Rings of Power. Filmes Senhor dos Anéis e O Hobbit. Versão animada de O Hobbit de 1977, Versão animada de O Senhor dos Anéis de 1978,O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien

    Além disso, a família Tolkien detém os direitos dos livros, e vale lembrar que todas as adaptações tiveram suas capas impressas nos livros como propaganda. Quem mais ganha com isso é a família Tolkien, já que quando o livro é vendido, o dinheiro arrecadado vai para a loja que vendeu o livro, para a editora que o publica e, em última instância, para o Tolkien Estate/ Família Tolkien. As produções de adaptação nada mais recebem do que um outdoor na capa e contra capa.

    E a própria família Tolkien admitiu que após as adaptações as vendas dos livros aumentaram mais de 1000%, isso porque adaptações divulgam o material, difundindo-o mais rapidamente entre o público, e o apresenta para quem não o conhecia ou nunca pensou em lê-lo, mas que resolveu dar uma chance depois de assistir as adaptações, então as adaptações tem esse ponto positivo e ajudam sim a emplacar ainda mais a fama dos livros.

    ...Muitas pessoas decidiram ler Senhor dos Anéis (SdA) depois de ver a Trilogia do Anel, muitas outras decidiram ler depois de ver a Trilogia O Hobbit (sou um exemplo), e já conheço novos leitores que decidiram dar uma chance aos livros depois de assistirem a série Anéis do Poder.

    Então você vê, a família Tolkien está ganhando dinheiro com isso, as editoras que publicam os livros estão ganhando dinheiro com isso, aqueles que produzem as adaptações estão ganhando dinheiro com isso, as lojas que vendem os livros ou quaisquer artigos das adaptações estão ganhando dinheiro com isso, os Produtores de Conteúdo (Youtubers, sites, blogs e revistas eletrônicas e impressas) estão ganhando dinheiro com isso (seja com comentários negativos ou positivos sobre as adaptações).

    E você? Esta ganhando oque sendo um “odiador/hater” de Tolkien ou qualquer adaptação da obra?

    Vejo muita hipocrisia entre fãs e haters; Por exemplo, 10 anos depois da Trilogia O Hobbit, vejo pessoas que vão aos vídeos da trilogia apenas para criticá-la. Sério? 10 anos depois, você ainda pensa nisso? Isso alugou um edifício, o Burj Khalifa, na sua cabeça, hein!

    Já vi muitos dando opinião de que a Trilogia O Hobbit foi 'lixo' e nem sabem que ultrapassou A Sociedade do Anel e As Duas Torres em bilheterias. Fora que tem muitos que pensam que SdA teve bilheteria astronômica de 3bi, é isso arredondado, mas a Trilogia Hobbit também arrecadou isso arredondado, 3bi. A razão deles não saberem é que muito 'produtor de conteúdo' e até 'revistas e sites' famosos vincularam informações falsas de que a Trilogia Hobbit era um fracasso. Fracasso em não conseguir óscares? Certamente. Mas a maioria dos outros filmes que a pessoa que fala isso gosta também não ganharam óscares, e daí? A pessoa só ama filme com Oscar agora? Todo filme que assiste e gosta agora tem que ter óscar ou ela já chama automaticamente de ‘lixo’, é isso? Fracasso em relação a não ser fiel/ igual ao livro? Realmente. Mas muitas adaptações também não são. E, lembre; ser diferente não é sinônimo de ruim.

    Assim sendo: falam mal do livro O Hobbit por ser o mais infantojuvenil da coleção, mas o indicam pra quem tá começando a ler Tolkien. Falam mal da Trilogia O Hobbit, mas na hora de falar que a franquia Terra-Média é uma das maiores da fantasia eles somam o valor de Senhor dos Anéis com ela. Ou seja: Vejo muita hipocrisia e 'maria vai com as outras' no fandom Tolkien, sabe? Dá pra ver que tem alguns vários que não tem opinião própria e só se segue a opinião alheia.

    CONCLUINDO AQUI: pessoas, se você diz que não gosta, mas ainda consome o referido conteúdo o tempo todo, então no fundo isto se tornou seu entretenimento (embora de forma tóxica). Porque, por mais que você se expresse negativamente em relação a isso (ou faça comentários preconceituosos, usando o autor como escudo, e queime a imagem do autor com isso), você está ativamente investindo seu tempo, suas emoções e, às vezes, até mesmo seu dinheiro, exatamente naquilo que você diz que tanto odeia. E, as vezes, vejo muita dessas pessoas passando mais tempo falando disso que tanto diz ter “odiado”, que falando das coisas que realmente diz gostar. Ou seja, a pessoa está engajada nisso, e fica dando ibope/ audiência para isso que tanto diz ‘odiar' (ocorre que, tanto o 'amor' quanto o 'odio' são investimentos sentimentais, enquanto isso é a 'indiferença' que realmente simboliza desprezo. Logo, ser 'Hater' de algo significa que tú 'não gostou do conteúdo' e em seguida tornou-se um 'fã as avessas' desse conteúdo, porque amando ou odiando, você dá atenção a isso). 

 Está vendo até onde rendeu as cartas de Tolkien? ...

    Agora, se você me perguntar “Tolkien fez isso de propósito?”, eu diria que não. Temos dois fatores acontecendo aqui; 

(1) Para mim, em suas obras (e cartas), Tolkien repetia inconscientemente as concepções de mundo e as ideias típicas da época, e respondia ingenuamente as cartas, até perceber que as interpretações de outras pessoas seriam propensas a comentários desagradáveis [quando ele então começou a ficar mais reticente em responder algumas coisas relativas a obra]. 

(2) Por outro lado, ele também é, em suma, um homem fruto de seu próprio tempo, e quando isso começou a ficar evidente (até para ele mesmo), ele se espantou e se eximiu como pode. Pois é assim mesmo que funciona o inconsciente. Quando foi confrontado com a percepção dessas ideias inconscientes (e enraizadas) o homem entrou em negação e se defendeu da maneira que pôde (Famoso "Freud explica"). Não culpo Tolkien, todos nós também somos assim.

    Em geral, portanto, quero enfatizar para distinguirmos bem: “Livros publicados por Tolkien durante sua vida” (O Hobbit e O Senhor dos Anéis); “Livros publicados postumamente” (O Silmarillion, Contos Inacabados e todos os outros livros publicados depois destes); e "As Cartas". Cada coisa em seu lugar, com suas qualidades e defeitos, cada um merecendo devida exaltação, mas também cautela e senso crítico.

    Tanto melhor para aqueles que não gostam de alegoria ou aplicabilidade e querem ver a obra de Tolkien como uma fantasia sem correlação com a geografia do nosso mundo nem com as religiões existentes, estas comparações tornam-se nulas e sem efeito para tais fãs. Pessoalmente, prefiro a fantasia sem esses vínculos com o nosso mundo [é por isso que leio fantasia, para me afastar da vida real, é uma forma de escapismo, oras], e para você?

   10

Conclusão

    Se eu tivesse que dizer pessoalmente o que sinto em relação à obra, diria que Tolkien é um escritor maravilhoso e que sua fantasia é a minha preferida de todos os tempos (embora eu tenha algumas pequenas críticas aqui e ali em relação a obra, críticas dentro de um limite saudável. Afinal acho que todos nós deveríamos saber elencar pontos positivos e negativos em relação a tudo, do contrário viraríamos apenas um “fanático doente” ou um “hater doente”, não acha?).

    E, convenhamos que, apesar de tudo, minhas críticas não chegam nem perto de todo o carinho que tenho por esse mundo fantástico. Tolkien, um autor de fantasia incomparável? Para mim, a resposta só pode ser “sim” ou “com certeza”.

O Hobbit, Senhor dos Anéis. Anéis do Poder. Legendarium. Tudo sobre o úniverso Tolkien. Resenha. Resumo. Análise. Livros. Sauron Morgoth, Eru Iluvatar. Bilbo Bolseiro. Frodo. Sam. Merry. Pippin. Livros de Tolkien
O Autor

 

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2 comentários:

  1. Oi Anne, adorei o seu texto e inclusive reservei um tempo pra ler com calma (já tinha visto que havia postagem nova no seu blog, mas quis esperar até eu ter tempo pra ler com calma). Eu não conhecia nada do Tolkien, pois saber da existência dos personagens e filmes, além de ter assistido 'O Hobbit' por conta do Martin Freeman, é como se eu não soubesse nada.

    Queria ter tido contato com a obra quando eu estava mais sedenta por fantasia, infelizmente passei de Harry Potter para Crepúsculo, e quando voltei para fantasia li aquele volume único de 'As Crônicas de Narnia' e não mergulhei em mais nenhuma saga desde então.

    Tenho vontade de ler a obra de Tolkien um dia e fico agradecida por, graças ao seu post, saber por onde começar e que sequencia seguir. Eu também prefiro fantasia não ligada ao nosso mundo, porque também leio para me afastar da vida real. Narnia é assim, Harry Potter nem tanto, então sei que consigo gostar dos dois tipos.

    Fiquei impressionada com a quantidade de detalhes e de trabalho que Tolkien teve para criar o universo dele e você está certíssima, com um computador ele teria conseguido publicar tudo em vida. Faz tempo que eu parei de escrever exclusivamente à mão e me rendi ao teclado do notebook.

    Até breve;
    Te espero nos meus blogs!
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
    https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)

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    Respostas
    1. Olá, Helaina. Para mim o elenco de O Hobbit são um dos pontos altos da trilogia, junto com trilha sonora e ambientação/customização. Gostei muito do trabalho de Martin Freeman como Bilbo.

      Talvez aquela frase do Lewis se aplique a você: “Um dia você será velho o bastante para voltar a ler contos de fadas”. Não se cobre, um dia talvez você de uma chance. E se não, tudo bem também!

      E, honestamente, estou lendo Harry Potter agora e posso dizer que em alguns aspectos o Universo Bruxo consegue ser menos “contos de fada”, talvez por isso que você falou dele ser no nosso mundo, e pretendo mencionar nas minhas próximas resenhas da saga que gosto da coragem da J.K de matar personagens, Tolkien não faz tanto isso em Senhor dos Anéis/SdA [personagens relevantes até morrem, é claro, mas foram os menos carismáticos e queridos pelo público, eu não temi tanto pelos principais e mais amados, sabe? Eu não chorei com os personagens que morreram].

      Curioso que os personagens que ele mata em O Hobbit me chocaram mais do que aqueles que matou no livro SdA, sendo que O hobbit é mais infantil e eu não estava esperando mortes nele por isso, hahaha.
      Já J.K eu to lendo e também tenho muitos spoilers, e agora já indo para o quinto livro to me apegando a alguns personagens e já sabendo que irei sofrer e chorar a morte de uns… haha, tentei não me apegar por já saber o destino de uns, mas não dá dando certo isso, ela cria personagens que agente se apega mesmo sem querer. Nesse aspecto que acho a J.K mais realista e menos “conto de fadas” que o Tolkien. To gostando mais disso nela, porque por mais que eu sofra, ao mesmo tempo acho que torna mais impactante e comove mais. To cada vez mais tensa com os livros passado esse 4 volume. O Final de SdA eu acho bem Conto de Fadas, sabe? Hahaha.

      Isso de comparar com o mundo real, acho chato no Fandom de Tolkien, muitas vezes porque vem com algum comentário desagradável seja de racismo, seja xenofobia, seja sexismo, sabe? E me desagrada. Já questões envolvendo religião, eu mesma sou cristã, e até consigo ver algumas coisas na obra do Tolkien por esse viés [quando Frodo está em Mordor, por exemplo, é impossível pra mim não lembrar de “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo” e também acho difícil não perceber que oque alguns chamam de “sorte” dos personagens e situações da trama era na verdade uma “intervenção divina”) mas assim, eu não não vou ficar impondo aos outros a forma como eu interpretei, sabe? O problema é que vejo alguns fãs fazendo isso, e me incomoda muito. Eu penso assim: cada um interpreta do seu jeito, e fim.

      Não vejo problema em fazer isso com Nárnia também, de ver o leão Aslam como Jesus/Deus e Tash como Satanás, inclusive porque no fim surge o “anti-aslam”. Mas assim, cada um interpreta do próprio jeito, e tudo certo. Mas no fandom de Tolkien me incomoda muito alguns fãs virar e falar “se você não entendeu assim leu errado, porque o Tolkien colocou isso na obra sim porque ele é católico”. Eu sou cristã e esse tipo de imposição, que alguns fãs fazem, me irrita, quem dirá então para quem não é. Acho grave essa falta de respeito de alguns em relação a não dar espaço a opinião e interpretação diversificada.

      Fico feliz que esse post deu pra esclarecer um pouco por onde começar! Apesar de que, sei que ficou enorme demais, eu tenho esse problema de ser prolixa.

      Inclusive, deixa eu ir, que você já deve estar cansada de ler essa resposta. Hahahaha.
      Agradeço seu comentário, e até a próxima. Beijos.

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