Resenha: O HOBBIT

Ficha técnica

Título: O Hobbit

Autor: John Ronald Reuel Tolkien (J.R.R Tolkien).

Ano de Publicação: 1937 (Inglaterra).

Páginas: 330

 

Esta resenha NÃO possui spoilers.

  SOBRE O QUE É ESTE LIVRO?

    O Hobbit é um clássico da literatura fantástica que arrebata fãs de todas as idades, apesar da classificação infantojuvenil. Por exemplo, é meu livro favorito dessa faixa etária. 

Ilustração original de Tolkien

    Narra a aventura de um Hobbit (uma criatura menor que um anão e de pés peludos) chamado Bilbo Bolseiro que, num belo dia de sua vida pacífica soprando anéis de fumaça com seu cachimbo, é convocado para uma aventura por Gandalf (o mago) e uma companhia (de anões) que tem como objetivo chegar (se conseguirem) ao antigo reino dos anões: uma montanha repleta de riquezas onde agora reside um dragão, que lhes usurpou seu reino e tesouro outrora.

    Que aventuras e desventuras o caminho e o destino final proporcionarão ao grupo? Nesta premissa reside a beleza da trama.

  POR QUE DEVES LER ESTE LIVRO?

    Se está procurando a clássica "Jornada do Herói": Esse livro é para você!!

Fiz uma análise de Bilbo Bolseiro e a Jornada do Herói bem AQUI

    Essa é aquela narrativa onde um personagem comum e acomodado vai se descobrir e desabrochar ao longo de várias provações, tornando-se o herói de sua própria aventura. E que jornada fantástica, que mundo fantástico, e que protagonista incrível. 

    Capa original ilustrada por Tolkien

    Ao ler, tenha em mente que neste livro o importante não é chegar ao desfecho e compreender o final, não. A graça dele é a TRAJETÓRIA e oque aprendemos com ela. Se você não focar nisso, não vai se comover. Não esqueça que a sinopse é "um Hobbit, um mago e treze anões rumo a um dragão que usurpou seu tesouro, e os desdobramentos disso tudo nesta trama" e em outra (...)

    A história é, em realidade, sobre o desenvolvimento do sr. Bilbo Bolseiro. A máxima do livro é sobre como aprendemos sobre o mundo a nossa volta vivenciando ele através das dificuldades, sobre como descobrimos quem somos e oque podemos fazer ou não, e sobre como nos transformamos no desenrolar da jornada.

    É com essa máxima que pude entender porque este livro, apesar de voltado para o público infantojuvenil, é tão aclamado por adultos. Penso que é por isso que a aventura de Bilbo Bolseiro é tão marcante e tornou-se um clássico, indicado para qualquer idade.

 O QUE EU ACHEI

    Bilbo é o protagonista, através dos olhos dele que vamos vivenciar essa jornada. Saliento que os demais personagens não são tão bem desenvolvidos quanto o Sr. Bolseiro, cujo é foco principal da narrativa. Por isso é impossível não se apaixonar pelas "Hobbitices" dele ao longo da trama.

    Tem como terminar esse livro sem gostar, mesmo que minimamente, de Bilbo Bolseiro? Conte-me sua opinião!

    Sinceramente, achei incomum que os outros personagens (além do Bilbo) não sejam tão desenvolvidos. Gandalf, os treze anões, Bard(…) seria ótimo mais informações sobre eles enquanto personagens secundário e coadjuvantes: Porém a falta dessas informações não atrapalha o livro, pelo contrário, o enredo focado e centrado só em Bilbo Bolseiro não deixou tanto a desejar, pois o Hobbit é deveras de um excelente protagonista.

   É uma façanha e tanto quando o personagem central é mais do que suficiente pra sustentar a narrativa sem excedente de casting e enredo, como ocorre na trilogia de filmes homônima [embora eu acredite que ambos, livro e filmes, são bons entretenimentos].

  OQUE MAIS GOSTEI

    A) O Hobbit é uma leitura leve, despretensiosa, não promete nada grandioso e entrega bem seu conteúdo, a jornada tem bom tom narrativo e ritmo razoável, sem ser tão cansativa e prolixa quanto Senhor dos Anéis (Lembrando sempre, obvio, que isso se deve a faixa etária distinta entre ambos. Mas são excelentes livros, em suas propostas narrativas).

    B) É focado em um único protagonista, o carismático Bilbo, que não é o arquétipo de herói convencional "Badass, poderoso e pronto pra lutar", mas ainda sim é encantador em seus atos, é cômico, rabugento, falho, corajoso, imprudente e sensato tudo num único personagem, o que lhe confere multidimensionalidade, dando pra ver seu crescimento ao longo da jornada.

    C) Apesar de ser uma aventura mais "branda e infantil" ainda nos ensina muito sobre se lançar no mundo ainda que tudo seja incerto, sobre lealdade, amizade, sobre ganância e seus males, sobre a jornada ser importante pra definirmos quem somos, que ela nos muda, mas que não devemos perder a essência.

    D) A trama não é aquele "clichê narrativo" cuja premissa central é sempre "Jovem herói e a luta constante das forças do bem contra as forças do mal", como sumariamente ocorre em Senhor dos Anéis, Harry Potter, Star Wars (e outros de grande sucessos). Aqui, tudo na premissa central começou APENAS como uma gostosa e aventuresca "jornada rumo ao tesouro" e só (apesar de desdobramentos posteriores).

 

    Há algo que menos gostei? Bem, a ausência de personagens femininas é algo que incomoda algumas leitoras, se na trilogia de filmes do Hobbit temos a aparição da divina Galadriel e ainda a criação de uma personagem feminina original (Tauriel), aqui no livro o elenco é 100% masculino. Tudo MUITO focado na perspectiva de Bilbo Bolseiro, sem muito espaço para outros protagonizarem e ganharem mais notoriedade. Nem tem muito espaço mesmo para Gandalf (sua jornada para Dol Guldur realmente ocorre, mas não nos é narrada).

    A Trilogia Hobbit acabou por decidir expandir o enfoque dos filmes para além do Hobbit Bilbo, isso foi a alegria de uns e o motivo para destilar "hater /ódio" para outros.

 

 

ESTRUTURA E COMO LER ESSE LIVRO, DICAS

    O livro é dividido em várias situações, cada capítulo narrará uma aventura ou desventura ao longo do trajeto, até que tudo culmine no final; que não, não se resume ao dragão. Tem muito mais ocorridos do que se imagina, antes, durante e depois de chegarem ao dragão. E ainda desdobramentos posteriores...

  ...Desdobramentos posteriores? Pois é, esta trama é anterior aos acontecimentos de O Senhor dos Anéis (SdA), por isso acho imprescindível ler O Hobbit primeiro, visto que aqui somos apresentados a esse mundo de Hobbits, Anões, Elfos, Magos e Humanos (de uma forma mais simplificada que em outros livros de Tolkien).

    Além disso, é em O Hobbit onde conhecemos Bilbo, Gandalf, Gollum, outros personagens e objetos que serão reutilizados a posterior na trama seguinte: é sempre um deleite conhecê-los em O Hobbit e reencontrá-los em Senhor dos Anéis (que, inclusive, fará algumas referencias muito legais a O Hobbit, só para satisfazer quem leu).

    A beleza de O Hobbit tá no todo, a leveza dele tá na jornada aventuresca, o melhor da leitura tá no que se aprende, ganha e perde, principalmente em como a jornada transforma o "herói/hobbit" em mais do que pensava ser, em mais do que pensava poder fazer e alcançar, e que mesmo o pequeno pode fazer algo e ser essencial (além dos Céus/autor conspirando nos "movimentos friamente calculados" do açúcar, tempero, tudo que há de bom e o elemento X [“sorte” e resiliência] que despejou no Hobbit ao longo da história, elementos que repetirá em Senhor dos Anéis de forma ainda mais Épica, mas que já é nítido em O Hobbit).

 PERGUNTAS FREQUENTES

“Quero só conhecer, não entrar num ‘esquema de piramide’, esse livro faz isso?"

Então, em relação a PRIMEIRA DÚVIDA: O Hobbit, embora possua ligação com outras obras do Tolkien, tem uma trama central bastante convincente para um livro único, onde o plot central é resolvido sem deixar muitas pontas soltas na narrativa. Ou seja, a espinha dorsal da narrativa (Um hobbit, um mago e anões rumo a um tesouro) tem inicio, meio e fim. Inclusive, quando Tolkien o escreveu, não esperava ter que dar uma sequencia.

    Oque fica “em aberto” no livro então? Informações periféricas, mas que não atrapalham o entendimento do “final do livro” em si. Os ‘detalhezinhos’ que ficam em aberto podem deixar o leitor curioso para a próxima aventura, ou seja, para a trama de O Senhor dos Anéis ou O Silmarillion (ou outros), mas...

    ...Ainda sim, se você não gostar do livro, não precisa necessariamente ler O Senhor dos Anéis ou O Silmarillion (ou qualquer outro livro de Tolkien): pois O Hobbit tem um final que funciona muito bem como um final para sua própria narrativa em específico. Inclusive, o próprio Tolkien disse isso, quando estavam importunando-o para que escrevesse uma sequencia, que viria a ser O Senhor dos Anéis.

 “Mas e se eu realmente QUISER ler a coleção de Tolkien, tudo bem começar com O Hobbit?”.

E a SEGUNDA DÚVIDA: Muitos que começam a leitura com O Hobbit desejam prosseguir, não porque precisam, mas porque são fisgados para esse universo e querem mais: Por isso se diz que O Hobbit é uma excelente “porta de entrada” para o “universo expandido Tolkien” (mais conhecido como “O Legendarium de Tolkien”).

    Mas está tudo bem começar com O Hobbit? Deve estar se perguntando...

    … bem, apesar de tudo, é interessante destacar que Tolkien já escrevia há anos sobre os primórdios desse mundo que criou (conhecido hoje sob o título O Silmarillion, e dentre outras histórias que viriam a compor seu Legendarium). Mas foi a trama de O Hobbit que chegou as prateleiras primeiro, cuja qual escrevera para os filhos pequenos e, ao tê-la publicado, não imaginava tamanha repercussão positiva.

    Ou seja, em ordem de eventos, O Hobbit não seria a primeira narrativa desse mundo dele: O Hobbit foi o primeiro em ordem de lançamento, mas não é o primeiro em ordem de eventos cronológicos desse mundo fictício. Mas é bom lembrar: foi por causa de O Hobbit que Tolkien teve que reconfigurar todo esse mundo que imaginara a princípio.

    Depois do sucesso estrondoso de O Hobbit, quando O Silmarillion foi negado pela editora a pedidos de fãs querendo apenas “mais histórias de hobbits”, Tolkien então escreveu O Senhor dos Anéis; que somou elementos tanto do já lançado O Hobbit quanto do, na época não publicado, O Silmarillion.

    Ou seja: Sabe-se lá se O Silmarillion (e outras histórias antigas desse mundo) teriam tido a mesma fama se lançado “solo”. E O senhor dos Anéis só foi escrito porque os fãs de O Hobbit assim demandaram. É correto dizer, então, que O Hobbit foi o ELO inesperado entre O Silmarillion e O Senhor dos Anéis...

    ...Logo, eu detesto quando o próprio fandom desdenha de O Hobbit por conta de sua narrativa mais simples em comparação com os outros livros, isso é quase como cuspir no prato que come, percebeu?

    E geralmente, quem lê O Hobbit costuma prosseguir e conhecer Senhor dos Anéis e outras narrativas do Legendarium de Tolkien.

    Então, respondendo a pergunta: SIM, pode começar a coleção com O Hobbit. Inclusive é muito bom fazer assim, porque a leitura será mais simples, dinâmica e prática aqui, ao passo que ficará mais complexa, densa e prolixa com os outros livros. Vai fundo explorador (irá encontrar um universo incrível a cada novo livro de Tolkien desbravado).

Ilustração Oficial de Tolkien, "Bilbo acordou com o sol do começo da manhã em seu rosto". É possivel ver o personagem bem na esquerda da ilustração. Esta é a minha favorita!

Fiz um post [sem spoilers] sobre as obras do Tolkien, de modo geral, e tudo o que precisas saber sobre elas e o mundo criado pelo autor bem AQUI

 

  EM CONCLUSÃO

     Sou suspeita para falar, porque sempre gostei mais do simples, livre para todos os públicos e humilde "O Hobbit", que sua sequência grandiosa e épica "O Senhor dos Anéis". Vale salientar novamente que O Hobbit partilha do mesmo universo [Eä] e mundo [Arda] complexo criado por Tolkien para O Silmarillion e O Senhor dos Anéis, mas ao mesmo tempo esse aqui tem um tom mais leve e descontraido de "anedota", se comparado aos outros livros.

  É justamente porque O Hobbit não se propõe ser magnânimo que me fisgou, na minha opinião esse aqui conseguiu ser arrebatador sem que o enredo se propusesse ser imponente, estruturador, performático e austero [como ocorre com Silmarillion e O Senhor dos Anéis]. É por isso que eu amo O Hobbit.

    O Hobbit é um livrinho leve e profundo quando tem que ser, faz rir e chorar, além disso o "mundo" onde se passa a trama/enredo é incrível sem que Tolkien tenha que fazer longas descrições de ambiente e acrescentar diversas informações sobre o mundo que inventou (oque ele fará mais nos outros livros, mas a falta de prolixidade não desmerece a trama de O Hobbit).

    Isso somado ao fato de Bilbo ser um personagem bem ativo/proativo e carismático (apesar de resmungão) faz do livro um deleite. Realmente Tolkien, em 1937, inovou e compreendo porque é considerado "pai da literatura fantástica", afinal desde este simples livro ‘O Hobbit’ já percebemos que este universo criativo dele é realmente FANTÁSTICO: O mundo que criou é fascinante e a narrativa digna de um mestre (obviamente que foi por isso que os fãs pediram “mais histórias de Hobbits", não é?).

J.R.R. Tolkien

    Esse livro foi meu primeiro contato com a escrita de Tolkien. E foi um início muito excelente. Ao passo que chegava ao fim eu não queria me despedir do protagonista, deu um aperto no coração ao fechar a última página (uma aventura que se tornou uma das minhas favoritas e releio sempre que posso).

    Agradeço ao Tolkien por criar um livro perfeitinho demais, situado num universo melhor ainda.

    E como em O Hobbit há canções e poemas, termino essa resenha com uma também, fiquei com a música da Ana Vitela na cabeça e achei que super se encaixou na jornada do Bilbo:

"Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si. 

É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti.

É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz. 

É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós.

É saber se sentir infinito num universo tão vasto e bonito. 

É saber sonhar. 

E então fazer valer a pena cada verso daquele poema sobre acreditar.

Não é sobre chegar no topo do mundo, e saber que venceu. 

É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu.

É sobre ser abrigo e também ter morada em outros corações. 

E assim ter amigos contigo em todas as situações.

A gente não pode ter tudo, qual seria a graça do mundo se fosse assim? 

Por isso, eu prefiro sorrisos e os presentes que a vida trouxe pra perto de mim.

Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar. 

E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar.

Também não é sobre correr contra o tempo pra ter sempre mais, porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás". Etc...

Ilustração original de Tolkien

 

 Então, achou que combina com o livro? Já leu? Pretende ler?  

 Gostou da publicação? 

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