[Resenha] Obra Completa Sherlock Holmes - Coleção

    Resenha: Obra completa Sherlock Holmes

 Ficha Técnica

 

Título: Sherlock Holmes (obra completa)

Autor: Arthur Conan Doyle

Ano de Publicação: entre 1887 a 1927

Páginas: total de 1810 (aproximadamente)

 

Esta resenha NÃO possui spoilers.

    SHERLOCK HOLMES

Sobre o que é esta série literária?

    A categoria desse clássico é mistério, porém oque fez se tornar tão bom foi a dupla dinâmica Sherlock e Watson. Essa dupla quase dispensa apresentações, não é mesmo? Creio que chamá-los de ‘uma das duplas literárias mais famosas do mundo’ não é exagero.

    Mas só para não perder o hábito; Sherlock Holmes tornou-se sinônimo de "detetive", "mistérios" e "aventuras". Seu chapéu de cervo, cachimbo, lupa e violino são marcas registradas para reconhecê-lo, e para se fixar ainda mais na mente do público: sua personalidade é complexa e sua forma de pensar é surpreendente, impossível entender metade de quem ele é se você só leu metade das histórias.

    Para desvendar mistérios o astuto e inteligente Sherlock Holmes é apaixonado por criminologia, extremamente detalhista e com grande capacidade de observação, segue as fontes menos óbvias (para o leitor), mas que o leva às informações mais precisas, mostrando seu raciocínio dedutivo e impressionando gerações de leitores através dos tempos, tornando-se um clássico da Literatura Policial.

    Mas Sherlock não fez sua fama sozinho: 56 casos (de 60) são escritos por John Watson (Um médico cirurgião, ex-oficial do departamento médico do exército britânico do Regimento de Fuzileiros) em primeira pessoa. É correto afirmar que só admiramos e amamos Sherlock porque Watson o adorava suficientemente para apresentá-lo a nós. Watson, um homem que tinha tanto respeito e consideração pelo trabalho e carisma do amigo que resolveu torná-lo protagonista de uma saga literária. Por isso é impossível amar Sherlock sem amar também seu biógrafo e companheiro, Watson.

Sherlock e Watson

   

    Então vamos lá: Um detetive excêntrico e peculiar, mistérios inusitados permeados de aventuras, um amigo leal e prestativo; que juntos formam a dupla dinâmica mais inseparável do mundo das investigações policiais, quem resiste?

    Captou a "fórmula" para o sucesso? Aqui nós fechamos com chave de ouro o motivo de tanta "fama". E há muito mais...

    Por que deves ler estes livros?

 

Conan Doyle

  

    O escritor escocês Sir Arthur Conan Doyle criou Sherlock Holmes e John Watson, desenvolvendo essas narrativas ao longo de 40 anos; Logo, essas histórias são de apreciação em ritmo lento, não é daquelas sagas que você lê os livros desesperadamente um atrás do outro (se fizer isso, possivelmente terá "overdose de Sherlock"). É uma coleção perfeita para Passatempo!

    Há também que o personagem fictício Sherlock é reconhecidamente o maior detetive da literatura mundial (ao ponto de alguns pensarem que ele, de fato, foi uma pessoa real, que Sherlock Holmes existiu! Muito embora, o personagem tenha sido inspirado no Doutor Joseph Bell, um professor de medicina da faculdade onde Doyle estudava). Bem, sendo real ou não, nada muda o fato de que Sherlock Holmes É um ícone na cultura popular!

    E como se isso não bastasse, a coleção trás muitos mistérios, como é de se esperar (alguns são bem desenvolvidos do início ao fim, outros a investigação e conclusão poderá "deixará a desejar", porém para qualquer bom curioso meio mistério já basta. Espera, não é assim o ditado?! [Risos]).

    É mistério atrás de mistério em diversas circunstâncias e ocorrências fora do comum que, embora hoje possam parecer “cliché”, na verdade foram estes que originou muitas bases da Literatura Policial e do Gênero Mistério, afinal, junto a Eugène-François Vidocq (Fundador da polícia especializada em investigações criminais, na frança) e Edgar Allan Poe (criador do 1º personagem detetive, C. Auguste Dupin), Conan Doyle ajudou a impulsionar o gênero das investigações criminais com sua obra acerca do seu personagem Sherlock Holmes. 

    Outros autores só aprimoraram ainda mais o gênero, ao observar o que funcionava e o que não funcionava nessas obras, usando-as de parâmetro.

   O que eu Achei?

E como ler esse livro, dicas!

      

        É uma coleção muito boa, a relação de camaradagem entre Sherlock Holmes e John Watson é interessante de acompanhar. Assim como cebolas e ogros, o relacionamento e personalidade deles tem camadas. Pra entender melhor o jeitinho de cada um e a amizade deles é preciso ler a obra por completo em suas "camadas", cada caso vai trazer algo novo sobre nossos protagonistas.

    Por vezes alguns personagens, coadjuvantes ou não, podem vir a dizer frases retrogradas, mas nada que desabone a obra em si, por vezes o próprio Sherlock Holmes é sexista, mas é superado por Irene. Em outros casos há, aqui e ali, frases que podem ter cunho racista ou xenófobo, mas também surgem outros trechos que desacreditam tais frases e as expõe como erroneas. 

    Então, sim, frases retrogradas são inteiramente repudiáveis atualmente, principalmente numa saga tão incrível (ainda que tenha sido escrito no século XIX, não podemos ser complacentes e fingir que estes problemas nunca existiram). Mas também precisamos separar oque são frases ditas por personagens, ou no viés deles, e oque é opinião do autor (por vezes o autor faz os personagens dizerem coisas das quais ele não concorda pessoalmente, mostrando que aquilo é da personalidade do personagem, não dele como autor em si). 

    Além disso, devo salientar, muitas dessas questões surgem em livros clássicos e de época, porque estamos sendo anacrônicos ao julgar tais preconceitos, visto que na época estas coisas não eram questões tão problemáticas ainda. Então não vale “cancelar” o livro nem o autor, o que podemos fazer é refletir acerca do que mudou de lá para cá, e entender quais desses preconceitos ainda permanecem estruturalmente em nossa sociedade. É fazer um exercício reflexivo, ao invés de julgar o livro por conter tais coisas, sempre separando oque é opinião de personagens e oque é do autor.

    Algo que sempre me assusta é que Sherlock foi lançado pela primeira vez em 1887, e o Brasil só aboliu a escravidão apenas em 1888. Logo, não é uma questão de “levantar bandeira contra livros do século passado e cancelá-los”, é uma questão de reflexão histórica, seja no contexto brasileiro ou britânico.

    Outra grande falta na coleção é a ausência de personagens femininas de destaque e/ou relevância no "elenco regular". Mas não só isso, tecnicamente NENHUM outro personagem (além de Sherlock Holmes e John Watson) tem destaque, apenas esses dois possuem desenvolvimento ao longo da saga. Mas vamos concordar: ambos roubam o show, isso eu garanto, os personagens coadjuvantes parecem quase dispensáveis quando temos Holmes e Watson como protagonistas que, junto a trama, são suficientes para envolver o leitor (Doyle nos provou isso).

   Sherlock Holmes não é tão bom quanto outros livros de mistérios?

    As vezes escuto de alguns leitores: “os livros de Sherlock Holmes NÃO são mistérios tão bons quanto dizem, outros autores são melhores, como Agatha Christie”. Mas deixe-me explicar uma coisa importantíssima!

    A coleção de livros de Sherlock Holmes não é sobre Holmes resolvendo um mistério, é basicamente sobre Watson descrevendo o quão incrível Sherlock Holmes é quando está resolvendo um mistério. É para quem gosta da personalidade e do jeito de agir de Holmes e Watson. Os 'mistérios' são apenas um bônus divertido.

    É por isso que todo leitor que conheço que é fã de mistério diz não gostar dos livros de Doyle. Tentar ler a coleção de Sherlock Holmes apenas pelo mistério, sem gostar muito de Holmes e Watson, é como ir a um jantar e só comer as entradas porque não gosta do prato principal.

    É por isso que nas adaptações, sejam elas baseadas fielmente nas tramas dos livros ou sejam elas adaptações com mais "liberdade criativa", o essencial é que tenha Sherlock Holmes e John Watson, ambos NÃO PODEM FALTAR (o mistério está sempre em segundo plano, em relação a eles).

    Também não seria melhor se fosse apenas Sherlock Holmes, em parte só admiramos Holmes porque o vemos através dos olhos de John Watson. E se fosse apenas John Watson também não seria o melhor, porque é a sua dedicação a Holmes (e a inteligência de Holmes na resolução de mistérios, por extensão) que faz de Watson um parceiro tão incrível. A ideia de Holmes de que, se ele é a luz, Watson é seu condutor, está muito certa.

    Doyle não sabia que Sherlock Holmes se tornaria seu Magnus Opus, ele nem queria isso, ele sentia que escrever sobre Holmes tomava seu tempo e o impedia de experimentar novos estilos literários, tentou parar de escrever estórias de Sherlock Holmes e assim foi por 10 anos, mas no final ele teve que ceder e voltar a escrever sobre Sherlock Holmes, pois era isso que o público queria dele e foi isso que o fez ganhar dinheiro.

    Sherlock Holmes é a prova de que um personagem/obra literária pode superar e se tornar maior que o autor que o criou. Uma vez que o autor publica, ela (sua obra, enredo e personagens) também vive no imaginário de fãs e admiradores, e esse é um caminho sem volta. Independentemente de o autor gostar ou não do rumo que isso tomará e de como os fãs e o público em geral vão lidar com isso.

    Doyle não é um renomado autor de mistério, ele é um autor conhecido por ter criado o detetive muito inteligente e excêntrico Sherlock Holmes e seu cronista e fiel parceiro John Watson. Se fossem os mesmos mistérios, mas com outros personagens que tivessem outra personalidade e dinâmica entre si, possivelmente a obra não teria tido a mesma fama a longo prazo. As pessoas amaram Sherlock Holmes, justamente por ele ser Sherlock Holmes.

     É por isso que a obra se chama “Sherlock Holmes”, o elemento de enfoque da narrativa é ele. O ponto central é, e sempre foi, a dupla dinâmica que Sherlock Holmes e John Watson formam juntos para com o intuito de resolver mistérios.

    Então se você está buscando esses livros por causa de Sherlock Holmes, está no caminho certo. Mas se esta lá mais pelo mistério, pode não gostar, visto que muitas vezes o leitor não receberá pista alguma para acompanhar (como acontece na maioria dos livros de mistério onde o livro deixa o leitor acompanhar as pistas) e terá de esperar até que Holmes surja para ser “brilhante” e resolver o caso com “deduções inteligentes”, os livros de Holmes não compartilham suas pistas com o leitor...

...A graça da coleção é vê-lo resolver os casos, não o caso isolado e por si mesmo.

 

    Outro grande ERRO é comprar todos os livros e querer ler tudo de uma vez!

    Em que velocidade ler essa coleção? Dica: Não importa seu ritmo habitual de leitura, com essa coleção faça diferente. Deixe Holmes e Watson entrarem no seu cotidiano aos pouquinhos, quanto mais lento você ler melhor, ok? 

É pra ser como um passatempo, então leia um caso de cada vez, vá intercalando-os com outras leituras suas. Assim você tirará mais proveito dessa Saga. Lembre que o autor ficou 40 anos escrevendo estes casos; as pessoas que iam lendo isso na época acompanharam as tramas bem lentamente, conforme iam sendo lançadas, assim eles viveram ANOS com Holmes e Watson em suas vidas, daí se apegarem a eles e ficarem felizes a cada novo lançamento. 

    Esses livros não foram feitos para se ler tudo de uma vez, foram feitos para se ler de forma episódica e esparsamente.

 

Como ler essa coleção? Dica: fiz uma lista da Ordem de Leitura bem AQUI.

   Conclusão

 

Sherlock e Watson

    

    Amei conhecer as aventuras (e desventuras) de Sherlock e Watson. Os livros são bons como passatempo e sentirei falta desses dois no meu dia a dia, posso dizer que me apeguei MUITO a essa dupla dinâmica. Agora entendo porque eles e os mistérios que investigam são tão queridos até hoje. Sei porque renderam tantas adaptações de sucesso que não seriam NADA sem os escritos originais para balizar e nortear.

    Não é um caso em especial que faz de Sherlock Holmes quem ele é, não. É o conjunto como um TODO que é elementar. Só lendo toda a saga pra entender! Merece os fãs que tem!

    Quando acabei o ultimo livro fiquei muito melancólica em pensar que, embora eu possa reler meus casos favoritos, nunca mais lerei um caso inédito escrito por Doyle. A sensação de perda foi grande ao término da leitura. Então o veredicto é: Vale muito a pena conhecer a coleção de livros Sherlock Holmes!

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