[RESENHA] Dom Quixote

Dom Quixote. Miguel de Cervantes Saavedra. Livro Dom Quixote de La Mancha. Resenha Dom Quixote. Dom Quixote e Sancho Pança. Dom Quixote moinhos de vento. Resumo Dom Quixote. Quem foi Dom Quixote. Frases Dom Quixote. Quem Escreveu Dom Quixote.  Dom Quixote Autor. Rocinante. Dulcinéia del Toboso. As aventuras de Dom Quixote.

    [RESENHA] Dom Quixote de La Mancha

Ficha Técnica

Título: Dom Quixote de La Mancha

Autor: Miguel de Cervantes Saavedra.

Ano de Publicação: 1605 {parte I} e 1615 {parte II} - (Espanha).

Páginas: 1.400 (aprox. a depender da edição) - Versão integral.

Essa resenha NÃO possui spoilers.

  Sinopse de Dom Quixote 

 

    Dom Quixote, ávido leitor de Romances Fantásticos de Cavalaria, ficou tão absorto pela leitura que passou dias e madrugadas insones lendo; e então, porque dormia pouco e lia muito, perdeu o juízo. Sua imaginação estava repleta de tudo o que lia naqueles livros, tanto magia e encantamentos de magos quanto duelos, contendas, inimigos, batalhas, desafios, galanteios, disparates, amor, tribulações, aventuras e vantagens impossíveis; tudo aquilo se assentou em sua mente de tal modo que ele considerou verdadeira toda aquela pilha de páginas engenhosas.

    Por mais fantasiosos que tais livros fossem para os demais, para Dom Quixote não haviam histórias mais verdadeiras no mundo, desta maneira, ele deixa sua vida como fidalgo para ser tal como aqueles Cavaleiros Andantes dos quais tanto leu...

    …Mas a verdade é que Dom Quixote de La Mancha não tem inimigos além daqueles que povoam sua própria mente insana. Sua armadura é velharia, seu elmo é de papelão, seu cavalo chamado Rocinante não é um cavalo notável, mas sim um bicho estropiado, seu fiel escudeiro é um simples fazendeiro da vizinhança montado num burro, e ele próprio foi nomeado cavaleiro por um estalajadeiro de um lugar aleatório onde parou. Seu amor, Dulcinéia del Toboso, só existe de maneira idealizada em sua mente, e suas aventuras como Cavaleiro junto a seu Escudeiro pelas estradas a fora seriam mais apropriadamente chamadas desventuras e desgraceira.

    Esta é a história de um nobre que enlouquece e sai de seu confortável lar em busca de supostas aventuras honrosas, apesar de impossíveis. Dom Quixote, chamado de O Cavaleiro da Triste Figura, representa a capacidade humana de resiliência frente a adversidades quando em busca de seus ideais, por mais teimosa, infrutífera e lamentável que essa luta possa parecer.

Por que ler este Livro?

    É um clássico da Literatura Mundial, uma das obra mais influentes e que marca o fim da Idade Média dentro da literatura. As estórias de Cavalaria eram narrativas ridículas e fantasiosas, mas muito lidas naquela época, muitas pessoas preferiam-na, ao invés da boa literatura mais complexa e acadêmica, outros tantos não sabiam diferenciar entre ficção e livros sérios (como ocorre com o infeliz protagonista de Miguel de Cervantes).

    Assim, Cervantes utilizou de ironia para falar sobre tais estórias de Cavalaria através de seu protagonista louco e bobo, satirizando esse tipo de estórias através de seu Quixote. O autor transforma toda a fantasia que o personagem pensa viver em nada mais que loucuras ilusórias e devaneios deprimentes, enquanto expõe a veracidade das situações cotidianas, sem idealizações, mostrando as questões sociais verdadeiras, abordando fracasso, hipocrisia, violência e ignorância, dentre outros tópicos, através de seus personagens principais, secundários, coadjuvantes e figurantes.

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O autor, Miguel de Cervantes

    Quer o autor tenha desejado ou não, Dom Quixote foi um tremendo sucesso, tornando-se um dos livros mais lidos de todos os tempos. E seu objetivo principal, de criticar e zombar das estórias fantasiosas de cavalaria, parece ter sido esquecido por muitos que leem as desventuras de Dom Quixote de la Mancha, digo isto porque quem inicia essa leitura muitas vezes tem dificuldade para entender do que ela se trata...

    …Creio que essa dificuldade nossa venha do fato de não conhecermos estórias de Cavalaria hoje em dia, daí fica complicado entender o que Cervantes estava parodiando e satirizando. Mas no fim tal trama é só isso mesmo; uma crítica do autor aquele tipo de gênero e tema literário, em prol de mais realismo.

    Será que Miguel de Cervantes já sabia que seria justamente remando contra a maré, zombando de todas as estórias daquele gênero e com aquele tipo de temática, que ele conseguiria tanta fama?

O Que Faz Este Livro tão Especial?

    Um livro de popularidade relativamente estável, embora tenha sido escrito há mais de 400 anos, tem um toque de apelo. A forma como o protagonista enlouquece depois de ler diversas histórias de cavalaria, com heróis de armaduras brilhantes, façanhas vertiginosas e nobres, jornada aventureira, títulos de nobreza, castelos e uma dama a quem honrar, cativa os sentidos de Quixote e a força disso na cabeça dele enlouquece-o. E que leitor poderia julgá-lo?

    É muito compreensível, porque quem entre nós nunca quis fazer parte, nem que seja uma vez sequer, nem que seja em pensamento, de algum mundo maravilhoso sobre o qual já lemos? (Se algum dia houver leitor de fantasia que julgue Quixote, ele não passará de um hipócrita).

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    Dom Quixote, nada mais do que um completo louco, mas que sente que o mundo ainda precisa de um Cavaleiro Andante, e por mais que ele pareça ser uma completa desgraça neste papel por causa de sua condição mental perturbada, o homem ainda quer reparar insultos, repreender erros, corrigir as injustiças do mundo. Ele é, em resumo, um sonhador louco.

    Quixote é um louco que, de propósito ou não, aumenta seus feitos, engrandece-os, e negligencia seus próprios defeitos e falhas (pessoais ou em decorrência das situações) em prol de devanear-se como um cavaleiro vivendo aventuras e desventuras. O mundo, como ele imagina, não é belo; mas é passível de enfrentar e de tentar corrigir os erros que ele vê pelo caminho, como nas estórias de fantasia, tudo é possível.

    A capricho dos devaneios fantasiosos de Quixote, a vida real lhe parece um “Faz de Conta”. Lembro-me de uma frase de Freud que diz “É impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de fuga”. Dom Quixote certamente usa todas as estórias de fantasia de Cavaleiro Andante como uma fuga da realidade enfadonha em que vive, não significa que isso faz bem a ele (pelo contrário). Mas mostra que somente assim ele pensa ser capaz de enfrentar o mundo, embora não consiga enfrentá-lo tal como o mundo realmente é.

    Não sei porque, mas antes de ler esse livro me fizeram crer que era “uma narrativa divertida”, porém eu não ri tanto assim, na verdade foram poucas vezes que me diverti. Não achei o livro cômico na MAIOR parte da narrativa, pelo contrário. Deixava-me triste ver esse bobo sendo enganado por onde passava, ver o louco sonhador humilhado, espancado e enganado por “gente sã”. Também era estarrecedor ver outros personagens coadjuvantes sendo humilhados e/ou passando perrengue e sofrendo. O lado bom é que isso ajudou-me a torcer por eles ao longo da leitura, sinal de que os personagens e tramas narradas eram fascinantes...

    Sim, o autor teve bastante sucesso em fazer a trama conseguir zombar tanto das estórias de Cavaleiros, zomba do devaneio heroico fantasioso que há nessas histórias, tanto quanto consegue zombar da realidade em que vivemos, onde os livros de fantasia acabam por ser uma saída, embora não uma saída aceitável se o livro não é instrutivo e seu público não saiba diferenciar realidade de ficção como Quixote. E foi isso que achei do livro, é um livro de crítica dupla. E muito inteligente.

    Fiquei me perguntando ao ler: se a fantasia não é um bom mecanismo de fuga (ao menos não da maneira como faz Quixote), e a realidade é tão sem graça em seus embaraços, para onde correr?

    Ao longo da narrativa é verdade que o Cavaleiro da Triste Figura cria muitos percalços e infortúnios para si mesmo; há caos por onde passa, mas ele é o chamado louco (convenhamos que ele parece ter tido um surto psicótico, pois perdeu o contato com a realidade, não tem mais argumentações pautadas na lógica, vê e ouve coisas que não são reais ou não são realmente como deveriam ser, comporta-se como se vivendo em uma estória de fantasia, etc...), por outro lado, as pessoas ditas “ajuizadas” são capazes de coisas abusivas, violentas e desonrosas, muitas demonstrando mau-caráter, frieza, egoismo ou zombaria mesquinha. Houve ignorantes pelos caminhos onde Quixote passou. Isso é a vida real?

    Com isso em mente, me veio a questão: como é possível viver, enfrentando as adversidades do dia a dia, sem idealizar o mundo? Obviamente que enlouquecer como Quixote NÃO é a saída viável. Mas é possível viver sem idealizar algo, qualquer coisa que seja? Como viver nesse mundo sem algo que nos faça querer acordar todo dia?

    Obviamente Dom Quixote extrapolou os limites da sanidade, ao tentar encontrar algo pelo qual viver, ao tentar buscar um ideal, uma maneira de ser, uma profissão e uma missão de vida. Mas a fuga da realidade que Quixote vivencia, por mais louca que seja, acaba por trazer à tona o que há de melhor nele; determinação, senso de propósito, desejo de fazer a diferença no mundo, realizar feitos impossíveis, ser útil, encontrar o amor e viver por isso, mostrar senso de honra em servir e ajudar a comunidade ao seu redor (ou tentar, pelo menos).

    …Repare como são desejos existenciais, ele faz suas loucuras pensando estar numa nobre missão, Quixote só consegue satisfazer tais virtudes de ser um bom-moço ao “fugir da realidade e começar a devanear”, ele fica louco ao tentar alcançar esse mundo de honra e dignidade que só existe em seus livros perfeitos, daí a única satisfação que consegue ter com o mundo é fantasiando, fazendo o mundo lhe parecer diferente do que é. Ele pinta o mundo com as cores que lhe parecem melhores, enquanto na verdade o mundo não é assim. 

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Monumento em homenagem a Cervantes (estátua Dom Quixote e Sancho Pança, Praça de Espanha, Madri).

    Entristecia-me vê-lo como um completo louco criando problemas para si e para os outros e se machucando no processo, mas o livro também faz a realidade, a vida real, o dia a dia, parecer tão monótono. O livro nos faz acreditar: “Quixote é maluco”, mas quem disse que essa realidade que criamos para nós mesmos e chamamos de “vida real” também não é? Se essa nossa realidade não é também louca, é no mínimo apática e insensível diante aqueles que são diferentes e tentam enfrentar o mundo de forma não usual, como Quixote. Afinal, como não enlouquecer perante a vida em sociedade tal qual ela é?

    Não que isso justifique a loucura de Dom Quixote. Isso tudo, obviamente, também não exime Quixote de seus próprios erros; ele além de absurdo em sua falta de lucidez, é também orgulhoso, é pedante, e é pretensioso por si só. Dom Quixote, em sua confusão entre fantasia e realidade, mascara seus próprios defeitos e falhas de caráter, transfigura suas fraquezas em qualidades pertinentes, fingindo serem adequadas a um cavaleiro, sempre que lhe é conveniente. 

    Para mim, isso também trás a tona o que o autor pensa da realidade nua e crua, onde nem mesmo seus protagonistas estão isentos; Quixote só é perfeito em suas próprias ilusões. 

    Mas será que a vida é uma desventura que vale a pena ser vivida? O livro trás muitas desventuras, seja dos protagonistas ou de personagens coadjuvantes tão interessantes quanto, e foi muito gratificante ler e saber o desfecho de cada qual.

    Ainda sim, eu estava na torcida. Havia em mim um desespero para saber quem sairia vencedor ao final: Quixote ou o mundo? “A sandice de um homem sonhador” versus “O frívolo e apático mundo”, quem vencerá? Você terá que ler para saber, não darei spoilers.

     É interessante notar que, em geral, o próprio autor transformava a trama em uma fantasia. Muitas vezes, ao me deparar com as coisas que ocorriam no texto, parece-nos que o proprio livro que temos em mãos foi forjado para ser uma fantasia com ares de parodia, no fim das contas, dado alguns entrelaces que ele apresenta. O livro em si zomba das estórias de cavalaria, e no fim nos dá uma [uma fora do comum], mas que não deixa de ter seus encantos e belas mensagens.

    Senti que o aspecto de crítica às histórias sobre Cavalaria não se estende apenas a Quixote e a Sancho, mas aparece também noutros seguimentos do texto, por vezes através de outras personagens (veja; o romance e acontecimentos intrincados que unia personagens numa mesma cena também tinha demasiada imaginação fantasiosa, a meu ver). Como resultado, mostra como a própria obra se esforça para ser uma crítica e parece nos fazer questionar quais partes do texto é uma zombaria à cavalaria, e quais não são. Bem como lembrar-nos que esse texto não visa ter raízes históricas, mas sim ser uma ficção que tenta instruir acerca das vantagens e desvantagens da literatura a depender do gênero lido, enfatizando o que, de fato, cada qual deve conter para ser leitura proveitosa e inteligente, mesmo se tratando de ficção.

    A coisa mais atrativa nesse livro, além da sátira com as estórias de cavaleiros versus a realidade, e além de seus personagens cativantes, é o autor, sim: ele é um excelente contador de estórias, daí consegue fazer-nos grudar nas tramas que vai narrando e costurando sabiamente entre um capítulo e outro, valorando o texto com valiosas mensagens implicitas e explícitas ao longo do caminho. Por isso Dom Quixote é um livro de ficção tão bom...

    ... Como há na frase tirada dele: “Quanto a livros (…) que sejam (…) para honesto passatempo, não somente dos ociosos, como dos mais ocupados, pois não é possível estar sempre com o arco retesado, nem a condição e debilidade humana pode se sustentar sem alguma lícita recreação”.

 

  

Estrutura do Livro e O que achei

    Cada capítulo narrará uma desventura diferente, do protagonista e seu escudeiro, ou dará sequencia a uma já em curso. Recomendo que leia devagar, cada situação em si muitas vezes deixa-nos sem saber para onde a narrativa esta indo, e perdidos acerca do ‘por que’ está seguindo aqueles rumos. Muitas vezes eu me via tentando achar significado em cada situação louca que aparecia quando no ponto de vista de Quixote, e nem sempre parecia existir uma explicação obvia ou sã. É assim mesmo.

    Confesso que as primeiras 100 páginas não me encantaram nem um pouco, tive certa dificuldade para entrar na história que o livro estava tentando contar, o famoso trecho dos Moinhos de Vento não me surpreendeu em nada, estava quase achando que o livro seria uma decepção e que minhas expectativas estavam muito altas e por isso iria me frustrar. Mas, felizmente, não foi o caso.

    Passado algumas páginas, mais propriamente falando quando cheguei na parte da personagem “Marcela”, ali percebi o quanto já estava imersa na narrativa, dali em diante não importava o que Cervantes contasse-me, eu queria continuar acompanhando Dom Quixote e Sancho Pança. Já estava junto com eles naquelas desventuras diversas e sabia que não conseguiria parar de ler até saber o que aconteceria com eles no final do livro.

    Ambos os personagens principais fizeram com que me apegasse a eles, de uma maneira que não sei explicar muito bem, eu só sabia que precisava acompanhá-los até o final, eu amava-os e ao mesmo tempo os detestava por causa das sandices que se enfiavam ou causavam a terceiros. 

    Saliento também que a estória de personagens secundários prenderam bastante minha atenção, as vezes mais do que as loucas desventuras dos protagonistas, e isso foi até interessante, ler uma estória dentro de outra estória, ver como a trama dos personagens principais se intercalava e se enrolava com a de personagens coadjuvantes: foi uma das melhores partes do livro para mim.

    Tenho que entrar no mérito de falar de Sancho Pança, ele foi uma adição interessante à narrativa, para mim ele é mais que bobo ignorante, é um louco como seu senhor. Mas eu não teria continuado a leitura, não conseguiria sair das primeiras páginas, se não fosse pela presença dele na narrativa, afinal, ele ajuda Quixote nos momentos de maior dificuldade. Angustiava-me ver ambos passarem por tanta coisa ruim, mas pelo menos eles estavam juntos, tinham um ao outro. Um louco para apoiar o outro louco, isso foi bom.

    Como o próprio livro diz: “Vamos ver no que dá esse amontoado de disparates do tal cavaleiro e do tal escudeiro, pois parece que foram forjados num mesmo molde, tendo em vista que as loucuras do senhor, sem as asneiras do criado, não valeriam um tostão”.

    Sendo assim, não sei se tal frase se originou dos dois, mas é aquilo: Sancho Pança é, verdadeiramente, o fiel escudeiro de Dom Quixote. E quem não precisa, ou não deseja, um fiel escudeiro? Alguem para estar contigo nas horas boas e principalmente para estar contigo nas ruins. Alguém que não vai te abandonar quando as situações da vida parecerem tenebrosas.

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Ilustração Dom Quixote e Sancho Pança

    Sancho fica com Quixote nas piores provações, fica com ele nas privações, no frio, na fome, na pobreza, na precariedade, na dor, na doença e na tristeza, as vezes ao relento, as vezes em lugares torpes. Ele permaneceu imperturbável ao lado de Dom Quixote, fazendo-lhe companhia e ajudando como podia, mesmo nas maiores tribulações, mesmo percebendo que seu amigo era louco.

    Sancho não é um personagem perfeito, longe disso, ele tem suas próprias ambições, deixou mulher e filhos pela promessa de terras e grana, razão pela qual aceitou seguir Quixote. E verdade seja dita, ele é um tolo [e também doido] por seguir o louco Quixote naquelas desventuras e acreditar nelas, onde qualquer outro julgaria que aquilo era estupidez e nem tentaria. 

    Porém nada muda o fato de que Sancho Pança NÃO virou as costas para Dom Quixote na primeira adversidade, pelo contrário, ele permaneceu ao lado do outro mesmo que tudo parecesse horrível e sem sentido. Essa é a qualidade redentora dele como escudeiro, apesar de todos os defeitos que ele por ventura expõe ao longo da trama.

    Esse tipo de dupla tornou-se uma constante em outras obras de peso: é a máxima “o protagonista e seu fiel seguidor”. Depois de Dom Quixote e Sancho Pança, temos outros muitos exemplos mais atuais que seguiriam o modelo; Sherlock Holmes e Dr. John Watson, Frodo Bolseiro e Samwise Gamgee, João Grilo e Chicó etc. São aquelas duplas que o personagem central está sempre escorado em seu fiel camarada que o acompanha, independentemente das dificuldades. Um fiel escudeiro que é mais simples e menos chamativo, alguém sem ares protagonísticos, mas que sem ele o outro personagem não teria a fama que tem, não da mesma maneira.

    Sancho é isso para Dom Quixote, sem ele o louco Quixote não teria ido tão longe, e mesmo que fosse, a obra em si não seria a mesma coisa. É aquele tipo de dupla que não dá para pensar separar, porque é estranho pensar em um sem o outro, a trama não teria o mesmo apelo. A narrativa de jornada e resiliência não seria a mesma sem aquela camaradagem.

    Se você chegar num ponto do livro que se veja já apegado nos dois e querendo acompanhá-los para saber onde toda aquela loucura vai dar, então o livro te fisgou, assim como foi comigo. Só não espere que isso aconteça logo no inicio, terá que ter um pouco de perseverança e foco até chegar a esse ponto.

PONTOS NEGATIVOS DO LIVRO

    1) Obviamente que um clássico de mais de 400 anos terá assuntos datados, assuntos que teremos dificuldade para compreender porque já não fazem parte do nosso cotidiano, tanto quanto formas de abordar o assunto que vai nos parecer antiquadas. Faço um alerta para Xenofobia, Intolerância Religiosa, Racismo, dentre outros preconceitos, encontrados na obra.

    2) Encontrar uma edição que agrade, existem muitas no mercado editorial, algumas que são resumos ou versões adaptadas para crianças e jovens, outras que são só metade do texto integral (sendo preciso verificar se está incluso a parte I e II). Independentemente disso, existe também inúmeras traduções diferentes, algumas muito rebuscadas, outras com linguagem muito coloquial, outras com uma linguagem tão atual que perde o “clima de época”. Recomendo que pesquise bastante antes de adquirir a edição que mais lhe agrade.

    3) Eu li a versão integral, parte I e II. E, convenhamos, Dom Quixote é calhamaço e, como em qualquer livro com muitas páginas, é necessário ter paciência e perseverança. Tem momentos que você amará a narrativa, em outros achará tudo enfadonho. Livros grandes demais sempre possuem pontos altos e baixos, situações que vão prender sua atenção e outras que julgará desnecessárias. Você vai adorar alguns pontos e odiar outros, é assim com vários calhamaços.

CONCLUSÃO

    O importante é a jornada de leitura, oque você aprende com ela, e como se apega aos personagens e a trama. Assim que terminei, não me senti tão impactada, pensei “É isso, fim. Foi bom, mas esperava mais”, mas apenas porque depois de tantas páginas ainda não tinha percebido oque o livro me agregou em sua totalidade.

    Porém, eu percebi que não dá para ler esse livro e sair incólume. Passou alguns dias e senti saudades dos personagens, depois senti saudades de acompanhá-los mesmo que fosse para mais situações árduas, loucas e dolorosas, cheias de infortúnios. Depois lembrei-me de vários trechos e frases, das reflexões e pensamentos que tive em alguns momentos da leitura. Mais algumas semanas depois e percebi como a leitura me acrescentou alguma bagagem a mais de repertório. E, principalmente, notei que algo na narrativa me tocou, me comoveu.

     Para mim, a mensagem do livro é: no final, mais vale a tentativa que a conquista. A jornada é mais importante que o resultado final. Quixote seguia um ideal, e por mais impossível que fosse, por mais que zombassem dele, por mais que o chamassem de louco, por mais que levasse porrada de todos os lados, por mais que ficasse aleijado e exausto, ele não desistiu tão facilmente...

    ...Dom Quixote foi lá e tentou, caiu inúmeras vezes e muitas vezes se machucou gravemente, mas levantou-se e seguiu em frente. A resiliência dele era forte, ainda que sua mente fosse insana seu senso de propósito e intenção não eram, por mais golpes e porradas que ele levasse (de vida, das situações, do caminho e de pessoas), ele não se desiludia tão facilmente. Foi isso que esse maluco me ensinou e na verdade é um grande aprendizado, talvez devêssemos ser mais parecidos com ele nesse sentido?

     Por algum motivo Quixote me lembrou outra frase de Freud: “Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste”.

    Eu sei que vou querer reler esse livro no futuro, e talvez outras vezes mais ao longo da vida: Para mim essa é a prova máxima de que o livro foi acolhido pelo meu coração, afinal eu não iria querer reler algo que não me arrebatou de alguma forma.

Música Tema Para o Livro: Sonho Impossível - Maria Bethânia

Sonhar mais um sonho impossível.

Lutar, quando é fácil ceder.

Vencer o inimigo invencível.

Negar, quando a regra é vender.

Sofrer a tortura implacável.

Romper a incabível prisão.

Voar num limite improvável.

Tocar o inacessível chão.

É minha lei, é minha questão, virar esse mundo, cravar esse chão.

Não me importa saber se é terrível demais.

Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz?

E amanhã, se esse chão que eu beijei for meu leito e perdão, vou saber que valeu delirar e morrer de paixão.

E assim, seja lá como for, vai ter fim a infinita aflição.

E o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão.


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2 comentários:

  1. Oi Anne, tudo bem?
    Socorro, eu sou muito Dom Quixote! Hahahaha... Dois anos de casada com John Watson confirmam minha afirmação. Não sei mais viver de outro jeito. Todas as vezes que tentei "desligar" totalmente a imaginação e viver apenas a realidade, me senti tão solitária que me fez mal fisicamente. Só não deixo as outras pessoas perceberem minha loucura (pelo menos espero que não percebam).

    "Como viver nesse mundo sem algo que nos faça querer acordar todo dia?" Sinceramente não sei, mas continuo acordando mesmo sem muita certeza do motivo.

    Nunca li Dom Quixote, mas obviamente já tinha ouvido falar da obra, entretanto não com uma análise tão detalhada como a sua. Fiquei com vontade de ler, mas tenho resistência com esses livros que demorar pra fisgar a gente. Pelo menos já vou ler sabendo disso o que me incentiva a continuar até o momento em que isso vai acabar acontecendo, pois achei a trama interessante.

    Aparentemente eu já estou bebendo da fonte de Cervantes, pois além de gostar de histórias com essa dinâmica de duplas, acho que nunca escrevi nada onde um personagem fosse obrigado a se virar sozinho. Com romance ou não, sempre há um fiel escudeiro.

    Até breve;
    Te espero nos meus blogs!
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com
    https://universo-invisivel.blogspot.com

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    Respostas
    1. Somos nós duas, então. Eu prefiro viver no "mundo da fantasia" que na vida real haha!
      Prefiro mil vezes me apaixonar por personagens de livros, séries, filmes, ou qualquer um que só existe nas minhas melhores idealizações (não posso julgar Quixote com sua Dulcinéia, haha), ter inúmeros amigos desses mundos fictícios, acreditar que um guarda-roupas pode levar a Nárnia, que Hogwarts existe, que criaturinhas com a metade do meu tamanho e de pés peludos viveram em tocas no chão (...), porque convenhamos que olhar 30 minutos pra qualquer noticiário já faz toda a esperança sumir. Vish!

      Creio que todo leitor, principalmente de ficção e fantasia, é um pouco Dom Quixote (só que menos radical que ele, haha) e por isso imagino que isso que nós leitores fazemos é um resgate da infância, quando tudo nos era possível nos nossos "faz de conta" e o mundo nos era menos terrível.

      Confesso que esse livro não foi nada do que eu esperava, não foi cômico como pensei que seria (embora minha opinião não desvalide quem acha engraçado, afinal eu reconheço que tem pontos que podem ser, dependendo do ponto de vista). E também não foi um livro denso em mensagens ou com muitos personagens nem nada, é mais isso mesmo: Quixote e Sancho andando estradas a fora, se fazendo de cavaleiro e escudeiro, e passando por vários perrengues, vivendo desgraças e desventuras, obviamente arrumando confusão por onde passam.

      Eu passei a me preocupar horrores com eles a partir da metade do livro. Também achei eles bem persistentes, porque com a quantidade de problemas e porrada que eles levam qualquer outro não continuaria tentando, eu não tava botando fé e pra mim eles não virariam nem a esquina com essa loucura de Cavaleiro e Escudeiro, mas foram mais longe do que eu pensava, por mais improvável que fosse.

      No fim essa mensagem de realidade versus ficção acabou me marcando e foi o melhor que eu consegui tirar de proveito. Que sonhar e idealizar o mundo também é necessário, do contrário podemos até morrer perante a realidade banal.

      Se vai ler, o jeito é aproveitar cada desventura deles de cada vez, as primeiras páginas me chamaram atenção, mas em alguns pontos fica arrastada as desventuras. Mas missão mesmo é achar uma edição que a leitura seja do seu agrado, tem tantas e traduzidas de formas diferentes, haha.
      Beijos, até a próxima!

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